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A bem da Nação

LEMBRAR, É SEMPRE BOM LEMBRAR

 

 

É de supor, pelo interesse sempre demonstrado pelos portugueses, que poucos se lembrem da chegada do € euro a Portugal. Foi uma festa. Uma euforia. Estavam ricos, iguais à Alemanha, França, etc.

 

E vá de gastar, comprar, comprar, conceder empréstimo para tudo (banco quer é juros), fazer estradas e... os investimentos produtivos ficaram esquecidos ou postergados... ad semper. Esqueceram.

 

Foi em Janeiro de 2002, que o € entrou em Portugal como os generais em Roma depois duma grande vitória!

 

Em Março de 2003 escrevi este texto que parece continuar a ser oportuno para lembrar as burradas (crimes) que fazem os políticos e os “homo pseudo-sapientes” nas coisas da economia.

 

A história, a inflação, as moedas e...

 

Hoje vou contar-lhes uma história. Aliás, para ser verdadeiro vou mostrar uma história escrita há muitos anos...

 

Era uma vez... - a bem da verdade também não era a primeira vez, mas façamos de conta que sim, para nos deixarmos de entretantos e irmos aos finalmentes - juntaram-se uma porção de nobres, ou reis ou presidentes e, com uma pseudo consulta feita às gentes das suas terras, ou países, ou regiões, ou aldeias, decidiram mudar a moeda circulante. Bem dito, melhor feito.

 

Ninguém se lembrou (será que conheciam?) a mais elementar lei de mercado: a economia, que é um animal vivo, vivíssimo, cujo domador é o intermediário, ou comerciante, ou... a lei da oferta e da procura! Enfim, como queriam uma moeda forte (moeda só é boa quando existe na mão do povo, mesmo sendo fraca; se for bastante, torna-se forte!) resolveram criar uma que valesse bem mais do que a existente e conhecida.

 

De entrada foi uma alegria confusa. Uns pensavam que pela moeda ser “forte” ficariam ricos, raros entendiam o novo câmbio, e os atravessadores - comerciantes, fabricantes, etc. - logo se aproveitaram para “arredondar” tudo para cima. Pouco. Só, só umas “migalhitas” de dez ou vinte por cento!

 

Faz contas, calcula câmbio, troca uma moeda por outra, de repente o povo clamou: “Mas a vida está caríssima! Porquê?”

 

No Brasil, acostumados com mudança de moeda, retirada de zeros, muitos zeros, inflação de até oitenta por cento ao mês, e outras “singularidades da França (?) antárctica”, a troca de moeda, sempre favorecendo os mesmos intermediários, como é óbvio, era recebida com naturalidade. Mais moeda, menos moeda... aliás, sempre menos moeda, já era o “pão-nosso de cada dia”, quando pão havia nesse dia.

 

Mas e na Europa? Ah! Na Europa só os ingleses devem ter lido a história e ficaram fora dessa! Agora os “europeus unidos” (para não serem vencidos) choram amargamente a nova moeda imposta de cima para baixo como canga. Aguenta...

Ora leiam a história abaixo que, segundo reza e será verdade, mostra que há setecentos e cinquenta anos (há 799 !) se passou exactamente o mesmo! O maravedi que se desdobrava em cento e oitenta pipiões e metaes, passou a desdobrar-se somente em noventa burgaleses e soldos, deixando de haver “dinheiro miúdo”!

 

Ninguém parece ter aprendido e quem paga sempre “o pato” para variar, é o povo!

 

SUBIDA AO TRONO DE AFONSO X

CRÓNICA DEL REY DOM AFONSO O DEZENO DE CASTELA E LEOM

[CAPITULO 1]

 

Do reynado del rey dom Afonso, filho deste rey dom Femando, e das parias que lhe dava el rey de Graada. E como mudou as moedas en começo de seu reynado e doutras cousas que fez

 

1. Morto el rey dom Femando, alçarom por rey de Castela e de Leom, na muy nobre cidade de Sevilha, onde el finou, o infante dom Afonso, seu filho, primeiro herdeiro. E começou de reynar aos XXIX dias do mes de Mayo da era de mil e duzetos e novêeta annos; e andava a era de Adam en çinquo mil e XXVII ãnos ebraicos e duzentos e oiteenta e sete dias mais; e a era do diluvyo en mil e trezentos e çinquoenta e tres annos romãaos e cento e çinquo dias mais; e a era del rey Nabucodonosor en mil e novecentos e noveeta e oito annos romãaos e mais XXII dias; e a era do grande Phillipe, rey de Greçia, en mil e quinhentos e seteenta e tres annos romãaos e XXII dias mais; e a era do grande rey Alexandre de Macedonia en mil e quinhentos e sesseenta e dous annos romãaos e duzentos e quareeta e quatro dias mais; e a era de Cesar en mil e duzentos e LXXXIX ãnos romãaos e cento e çinquoeeta dias mais; e a era da nacença de Jhesu Cristo en mil e duzentos e LII annos; e a era de Gallizanos, o Egiptiãao, en oitocentos e LXVIII ãnos; e a era dos aravigos en seisçetos e viinte e nove annos; e a era de Sparsiano, segundo a era dos Persiãaos, en seis centos e XX ãnos.

 

2. E reinou este rey dom Afonso XXXII ãnos e foy / o dezeno rey de Castela e de Leon que per este nome foy chamado.

 

3. Este rey dom Afonso, en começo de seu reynado, firmou por tempo certo as posturas e aveeças que el rey dom Femando, seu padre, avya posto con el rey de Graada; e que lhe desse aquellas parias que dava a el, pero que lhas non derom tam compridamente como as davam a el rey dom Femando, seu padre.

 

4. Ca, en tempo deI rey dom Femando, lhe dava el rey de Graada a meatade de todas suas rendas que eram apreçadas a seis centos mil maravidiis da moeda de Castela. E esta moeda era de tantos dinheiros o maravidil que chegava a valer o maravidil tanto como huu maravidil d'ouro, por que, en aquel tempo del rey dom Fernando, corria en Castella a moeda dos pipiõoes e no regnado de Leon a moeda dos leoneses; e, daqueles pipiõoes, valia cento e oiteenta o maravidil.

5. E as compras pequenas faziãnas a metaaes e a meos metaaes que faziam XVIII pipiõoes o metal e dez metaaez o maravidi. E destes maravidiis eram apreçadas as rendas do reyno de Graada en seiscentos mil. E davam a el rey dõ Fernãdo a meatade daquelas rendas.

6. E, como quer que el rey de Graada desse estas parias a el rey dom Fernando, por que o leixasse viver em paz, pero mais lhas dava por manieyra de reconheçimento, por que este rey dom Fernando deu ajuda de gentes e doutros logares do reyno a este rey de Graada contra huu linhagen de mouros que eram seus cõtrairos muy poderosos e chamavanlhes os d'Escabuuvela.

 

7. Este rey de Graada foy o primeiro rey a que chamaron Abenalhamar. E ajudouho sempre el rey dom Fernando en toda sua vida, de guisa / que nuuca se lhe poderon alçar os mouros daquel reyno. E por estas razõoes avya el rey dom Fernando dos mouros tã grãde contia d'aver en parias.

 

8. El rey dõ Afonso, seu filho, no começo de seu reynado, mandou desfazer a moeda dos pipiões e fez lavrar a moeda dos burgaleses que valiam noveeta dinheiros o maravidil. E as compras pequenas fazianse a soldos; e seis dinheiros daqueles valiã huu soldo; e quiinze soldos valiam huu maravidil. E destes lhe dava cada ano el rey de Graada duzentos e çincoeenta mil maravidiis.

 

En este tempo, per os mudametos destas moedas, ecarecerõ todalas cousas nos reynos de Castella e de Leon e pojaron a muy grandes cõtias.

 

9. En aquel primeiro ano, se trabalhou el rey de fazer as cousas que entendeo que eram prol de seus reynos. E basteçeo e requeri o as villas e logares e casteIlos que erã fronteiros dos mouros e esso meesmo as villas e logares do reyno de Murça que elle guaanhara en vida del rey dom Fernãdo, seu padre, seendo iffante, as quaaes erã pobradas de mouros.

 

10. E, como quer que os ricos homees e cavaleiros e infanções e filhos d'algo de seus reynos vivyam cõ elle en paz e en assessego, pero elle con grãdeza de coraçõ e por os teer mais prestes pera seu serviço quando os mester ouvesse, acrecentouIhes nas contias muyto mais do que avyam no tempo del rey dom Fernando, seu padre. E outrossy, das suas rendas, deu a algus delles mais terras das que tiinham e outros que as ataaly non ouveron deulhes terras novamente. E, por que a estoria trage o conto dos anos deste rey des o mes de Janeiro, poserom estas cousas sobreditas nos primeiros sete meses deste anno de mil e duzentos e noveenta annos.

 

[CAPITULO 5]

Como el rey pos almotaçarias en todalas cousas e as tirou depois

 

1. Enno quarto anno do reynado deI rey dom Afonso, lhe veerom muytas querelas de todallas partes de seus reynos, que as cousas eram assy caras e postas en tã grandes contias que as gentes as non podiam aver. E por esta razom pos el rey almotaçarias en todallas cousas, quanto cada hua ouvesse de valer.

 

2. E, como quer que, ante que el rey esto fezesse aos homees era muy grave de as poderem aver, muyto peor as ouveron depois por que os mercadores e os outros que as tiinham pera vender guardavãnas que as non queriã mostrar.

 

3. E por esto se viron as gentes en tam grande afficamento que el rey ouve de tyrar as almotaçarias e mandou que se vendessem as cousas livremete por os preços que se as partes aveessem.

 

4. E non se acha en este anno outra cousa que de contar seja que a esta estoria perteeça.

 

Curioso, né? Porque os governantes de hoje (e de ontem) não aprendem mais com a história?

 

O texto acima foi retirado da “Crónica Geral de Espanha de 1344” – edição crítica do Prof. Luis Lindley Cintra.

 

Rio de Janeiro, 23 de Julho de 2011

 

 Francisco Gomes de Amorim

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