«ISTO É QUE ESTÁ UMA CRISE!!!...» – 1
Frase popular mas muito falsa porque o povo nem sempre tem razão.
Platão imaginou aquilo a que hoje chamamos «Democracia platónica» em que só os ilustrados tinham direito a voto e a serem eleitos; Mao Tsé Tung pensava mais ou menos o mesmo a ponto de afirmar que «o povo é o estrume em que germina a revolução».
O patíbulo ou a polé seriam destinos bem prováveis para quem hoje promovesse tais ideias. E bem!
Se os amores platónicos continuam por aí, estranho é que ainda haja maoistas a perorar ideias desse algoz chinês a cujas mãos sucumbiram milhares e milhares de vítimas apodadas de inimigas da sua revolução, leia-se, da sua política, leia-se, da sua liderança. Esperemos que tenha sido o último dos grandes assassinos dessa escória a que também pertenceram Hitler e Staline.
Quanto a Platão, as suas ideias são suficientemente antigas para se poder sempre argumentar com «outros tempos» e continuar a considerá-lo um idealista que não matou ninguém nem sequer tentou prejudicar alguém. Criou, conjuntamente com Sócrates e Aristóteles, a base da filosofia ocidental, a nossa e por isso o estudamos.
Mas tanto Platão como Mao não tinham razão.
Hoje, a nossa razão aponta no sentido da DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DO HOMEM cujo artigo 1.º proclama que «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos; dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.»
E os dias rolavam com alguma tranquilidade entre Platão e Mao em direcção à Declaração Universal até que certa manhã Bill Clinton se lembrou de que todos os americanos tinham direito a casa própria e, portanto, deveriam poder aceder ao crédito necessário a tal desígnio. Mexidos os «cordelinhos» considerados convenientes, eis o sistema bancário americano a puxar pelos cordões à bolsa emprestando dinheiro a quem lhe batia à porta para comprar casa.
Análise de risco? CREDO!!! QUE IDEIA PERVERSA!!! Ordens do Presidente e represálias inenarráveis para quem as não cumprisse.
Mas era já então claríssimo que muitos desses novos clientes não mereciam o crédito que lhes estava a ser concedido pois não tinham rendimentos regulares que lhes permitissem servir a dívida que estavam a constituir. E como banqueiro pode ser sovina e até agiota mas estúpido é que não é, vá de “pôr as barbas de molho” alienando vastíssimas carteiras desse crédito mal cheiroso como se fossem fillet mignon. E houve quem enfiasse esses barretes pensando que ficaria bem na fotografia. Não contente com o mercado doméstico, eis como a América virou exportadora de barretes com destinos urbi et orbi. Ter créditos na América é coisa fina, digna do curriculum de qualquer gestor não americano.
Bastou chegar a data de vencimento desses créditos para se começar a perceber que o fillet migon, afinal, equivalia apenas ao conteúdo das tripas à moda do Porto antes de lavadas.
Içadas as mãos às cabeças airadas que compraram gato por lebre, zangaram-se as comadres e descobriram-se algumas verdades: o dolo de alguns foi uma das descobertas alcançadas.
Dolosos caídos em desgraça, vá de tentar salvar as vítimas papalvas pelo que o Tio Sam decidiu criar os fundos que lhe pareceram suficientes para evitar o colapso de algum do seu «state» em perigo de não mais ser de «wellfare».
Mas a política monetária americana é diferente das homólogas europeias – tanto as de intra como as de extra Eurolândia – pelo que do lado onde nasce o Sol não foi possível pôr as rotativas a trabalhar em horas extraordinárias sob a protecção de um Petroeuro inexistente havendo que deglutir o lixo americano que para cá fora vertido a somar àquele que por cá tinha sido criado como fazem os macacos de imitação.
Estávamos nós, europeus, em plena reciclagem (consolidação, reintegração, amortização, chame-se-lhe como quiserem) dessa primeira carrada de lixo quando constatámos que por cá havia outro tipo de porcaria (bem grande, aliás), o das dívidas públicas. Por cá, o wellfare americano chama-se Estado Social mas com uma diferença fundamental: os americanos habituaram-se a viver confortavelmente como consequência da sua própria iniciativa empresarial; os europeus habituaram-se a viver bem como consequência das benesses públicas distribuídas pelos políticos que assim compravam votos para se manterem no poder.
Dito mais prosaicamente: na América os gatunos foram os privados, na Europa não.
Até na gatunagem os americanos são mais liberais do que nós, europeus.
E em Portugal?
Ah! Isso fica para mais logo...
Lisboa, 10 de Junho de 2013