CURAÇAO – 1
Bon Bini Curaçao = Bem-vindo a Curaçao
A cerca de 40 quilómetros ao largo da Venezuela, Curaçao parece uma banana com um pouco mais de 60 kms de comprimento, uma largura que varia entre os 3 e os 14 kms e é habitada por cerca de 100 mil pessoas. O respeito que inspira não resulta, pois, da dimensão física.
A tez popular varia entre o negro mais negro que os trópicos alguma vez imaginaram e o café com leite claro. Totalmente escolarizados, os naturais (curacenses?) falam e escrevem quatro línguas (papiamento, holandês, inglês e espanhol) mas têm o papiamento como língua materna. E o que é esta língua? É um crioulo de português salpicado de espanhol e de outras influências nem sempre bem identificadas mas que se diz serem africanas. Nós, portugueses, percebemos praticamente metade das frases e o resto lá vamos tirando pelo sentido da conversa. O facto de a dicção ser especialmente meticulosa facilita a compreensão. Quando não percebemos, lá vem o inglês ou o espanhol. Holandês, vou aprender na próxima encarnação.
Como é que tal realidade acontece num país que nunca foi colónia portuguesa?
A História de Curaçao começa no ano de 1499 com a chegada dos espanhóis; antes disso era a pré-história pois os habitantes que lá existiam – índios oriundos do continente ali mesmo em frente – não deviam conhecer a escrita. Ou seja, não tendo até hoje sido identificados traços desse povo que pudessem ser assemelhados a escrita, presumimos que a não conhecessem e, portanto, apelidamos a sua como sendo pré-história.
Chegados os espanhóis, logo começaram à procura de oiro mas...
O domínio espanhol manteve-se durante todo o século XVI, período durante o qual os indígenas foram transferidos para a ilha Hispaniola (actual Ilha de S. Domingos onde se localizam a República Dominicana e o Haiti) ficando Curaçao a servir de ponte para a exploração e conquista dos territórios no norte da América do Sul.
Mas como não foi encontrado oiro e a água potável era quase inexistente, à medida que avançava a colonização do continente a ilha foi perdendo importância para os interesses espanhóis, foi considerada inútil e abandonada progressivamente.
Foi com a saída dos espanhóis que começaram a aparecer outros cobiçosos e não tardou muito para que os piratas franceses, ingleses e holandeses começassem a defrontar-se para se servirem das diversas baías que a ilha tem para refúgio nos intervalos das intensas actividades que já então desenvolviam em todo o Mar das Caraíbas. E dos confrontos entre piratas foi rápida a passagem para o confronto entre as Armadas dessas três potências o que, diga-se em abono da verdade, pouca diferença fazia. Na realidade, o que distinguia os piratas dos almirantes era que estes custavam dinheiro às respectivas Coroas enquanto que os bucaneiros se auto financiavam e lá iam dando parte dos lucros apurados aos seus Senhores para lhes ganharem as graças. Apesar desta diferença não despicienda, entraram as Armadas em acção e acabou vitorioso em 1621 o almirante holandês Johan van Walbeeck que em 1634 formalizou a entrada da ilha na posse da Companhia Neerlandesa das Índias Ocidentais, o mesmo é dizer na posse do Príncipe de Orange, ou seja, o Rei da Holanda.
Em 1642, Peter Stuyvesant foi nomeado governador e Curaçao tornou-se num verdadeiro centro comercial holandês desenvolvendo intensas actividades esclavagistas sobretudo na extracção de sal.
Salinas em Curaçao
A mão-de-obra escrava foi abundantemente fornecida por comerciantes portugueses os quais recrutavam também os capatazes que administravam o trabalho desenvolvido nas salinas. Ou seja, eram portugueses que lidavam com os escravos e era em português que as ordens eram dadas.
Eis como um território que nunca foi português, tem uma língua oficial que nós entendemos com alguma facilidade. Mais: os próprios curacenses (será assim que se diz?) entendem português desde que falemos pausadamente, sem erudições pretensiosas e, sobretudo, com dicção clara.
Como havemos de fazer para lhes darmos algum enquadramento lusíada?
Lisboa, Maio de 2011
Henrique Salles da Fonseca