OS LOBOS E OS FAUNOS – 6 (II Série)
O Prezado Leitor já sabe que os Faunos são os políticos auto-elevados à honra dos altares, que os lobos são os que comem a carne e que os melros assobiam para distrair os rebanhos de contribuintes. Mas talvez não saiba que também nós elevámos à honra dos altares quem faz dúbia doutrina.
Ávido de pureza na doutrina da Fé, o então primeiro Fauno, D. João III, trouxe para o Reino a Santa Inquisição; o mesmo Fauno mor, ávido de dobras e dobrões, concedeu as Mesas de Despacho nos portos e nas praias instalou as Lotas.
A Santa Inquisição de tão triste memória existiu até 1821, as Mesas de Despacho ainda funcionam mas apenas para a cobrança de direitos aduaneiros sobre mercadorias oriundas de países terceiros e as Lotas pouco evoluíram do estado em que Sua Alteza fundadora as concebeu.
Se a Inquisição assava quem duvidava da doutrina celeste oficial entesourando os patrimónios dos castigados, as Mesas de Despacho revelaram-se até à adesão à CEE uma das mais importantes fontes de receita do Estado e o Imposto sobre o Pescado actualmente cobrado diz-se ser inferior ao custo de funcionamento das Lotas.
Loba assada pela Carta Constitucional, a Inquisição está agora (e espero que para sempre) a prestar contas ao Altíssimo; as Mesas de Despacho são hoje temerosas raposas; as Lotas, comandadas pelo «chui» de vorazes lobos, são o algoz das nossas pescas.
Porquê? Porque se limitam a oficializar um aberrante método de formação dos preços com o risco todo concentrado na oferta e com a procura a determinar as regras do leilão que, pasme-se, é decrescente.
Dá para imaginar um mercado em que uma das partes, a procura, está imune ao risco e em que este se concentra apenas na oferta? Escandalosamente, isto tudo com o beneplácito dos Faunos.
Os lobos, agradecidos, lambem os beiços sobre as sangrentas carcaças dos rebanhos.