AS PRESAS
Um texto simples e claro, de Pedro Brás Teixeira, Director-executivo do Nova Finance Center, Nova School of Business and Economics – “Os portugueses são presas demasiado fáceis para os demagogos”, que Salles da Fonseca publica no “A Bem da Nação, sob o título
«LIÇÕES DE DEMAGOGIA»:
«Os portugueses são presas demasiado fáceis para os demagogos»
O título do artigo logo remete para considerandos sobre o porquê da nossa facilidade em aceitar as lições dos demagogos, que têm a ver com uma impreparação ancestral. Antero o descreveu no seu opúsculo “CAUSAS DA DECADÊNCIA DOS POVOS PENINSULARES”, Oliveira Martins o informa no 3º volume do “Portugal Contemporâneo”:
Joaquim Pedro de Oliveira Martins
Dentro da Europa, Portugal é talvez a Nação onde o sentimento das ideias modernas menos se tem propagado. Encarando a nossa sociedade, podemos atribuir este facto à falta de instrução pública e ao carácter próprio da vida económica. A ignorância geral é a consequência mais dolorosa que deixaram de si os três séculos de obscurantismo que sucederam às Descobertas; e o carácter próprio da vida económica é ainda uma consequência do movimento da Renascença em Portugal, mas principalmente provém da falta de condições industriais e da abundância e riqueza de condições agrícolas.”...
“Memoremos as causas, tiremos as consequências, diagnostiquemos o futuro:
a) ignorância popular, por não haver instrução primária;
b) atrofiamento intelectual e moral da mocidade pela constituição da secundária;
c) parasitismo aristocrático-tolo dos filhos da classe média pela educação universitária;
d) reconstituição dos “latifundia” pela legislação;
e) ausência de indústria pela pobreza natural mineralógica;
f) formação da classe “brasileiro” (tão hedionda, no Minho, principalmente!), manutenção da emigração de trabalhadores, de raparigas que o prostíbulo espera além-mar, etc, pela exploração do Brasil.
“Quererás tu, “conservar” ainda, leitor? Quererás conservar esta engrenagem horrenda em que se entrelaçam em harmonia íntima, com as voltas de uma boa enorme, a ignorância, a miséria intelectual e moral, o parasitismo, a agiotagem, a grande propriedade, os “brasileiros”, os “bacharéis”, os “agiotas”, e as prostitutas? Não podes querer, ou não vales mais, tu, do que todos estes”.
E, apesar do percurso feito no sector da educação – e eliminadas, neste século, algumas das razões apontadas por Oliveira Martins – hoje não é mais optimista o estado de espírito do povo português, nem de grande parte dos comentadores políticos, e geral é o coro de reclamações e críticas, a todos os governos e particularmente a este.
Mas tais reclamações, grande parte das vezes instigadas pelas vozes da demagogia, têm a ver com a ineficácia das estruturas educativas, com o atraso do povo, com a falta de profissionalismo daí consequente, com o estado deficitário da economia, com o clima de instabilidade nacional, com o aumento das greves e do desemprego, com o vazio dos discursos e ideologias políticas de tantas facções, com a alternância de partidos no poder, cada qual tentando equilibrar as finanças do Estado, em políticas de diferente dimensão, mas cada vez mais contribuindo para aumentar o défice, o custo de vida e a imagem negativa que temos de nós próprios.
Por esse motivo, perguntamo-nos se outras causas não haverá que expliquem a nossa decadência, para além das citadas por Antero ou Oliveira Martins, justificativas de uma permanente situação de crise económica que, apesar das críticas demagógicas contra o governo, e da deficiência económica cada vez mais notória, o governo actual pretende honestamente, embora muito dificilmente, colmatar, também por conta da tal demagogia dos atiçadores da opinião pública, lembrando meninos impacientes exigindo aos papás o brinquedo da montra que a moda impõe.
Costuma-se apontar a nossa posição periférica, separados da Europa por uma cadeia montanhosa, mas nunca ela foi intransponível, nem obstáculo a invasões de povos, como aconteceu com os outros povos europeus, além da facilidade de comunicações actual. Fomos um povo agrícola, mas o solo pobre poderia ter facilitado uma maior industrialização, se fôssemos um povo trabalhador. Talvez o clima ameno justifique em parte também a nossa tendência para a inércia e a imprevidência, ou uma característica fatalista, de resignação e fé, nos torne um povo em permanente apetência de milagre salvador, de que o sebastianismo foi um exemplo constante na nossa história social e literária.
E uma das consequências graves do nosso atraso e da nossa inércia é essa que cita Pedro Brás Teixeira, de que “Os portugueses são presas demasiado fáceis para os demagogos”. Porque estes, ao aparecerem-lhes como camaradas sensíveis e amistosos, vão explorando perversamente as dores alheias e desvirtuando cinicamente as intenções dos que governam – no caso presente, com a devida compostura e hombridade, e forçados pela situação por tantos governantes anteriores criada – e originando assim, sem qualquer preocupação nacionalista, o caos na própria nação.
Entre esses demagogos de meia tigela aponto José Pacheco Pereira, aproveitando o espaço de um seu programa – A Quadratura do Círculo – em que ele ocupará um dos lados do Quadrado, mas com aspirações ao centro do Círculo - para demitir o governo, no seu ódio faccioso e impertinente, e na sua arrogância destruidora que a filiação partidária actual não justifica – mas que talvez justifiquem anteriores filiações, mais conformes com tal verrina, que lhe facultam, hoje, a nobreza da idade representada nas barbas grisalhas e o clima da impunidade que a democracia facilitou.