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A bem da Nação

KANT E O ENTENDIMENTO PURO

 

 

Tese: Kant escrevia mal

Antítese: Kant escrevia bem

Síntese: Kant escrevia só para quem estava (e está) em condições de o perceber

 

Abrindo a CRÍTICA DA RAZÃO PURA (5ª edição da Gulbenkian, 2001), de modo perfeitamente aleatório, depara-se-me a pág. 195 onde se inicia a Terceira Secção (REPRESENTAÇÃO SISTEMÁTICA DE TODOS OS PRINCÍPIOS SINTÉTICOS DO ENTENDIMENTO PURO) do Capítulo II intitulado SISTEMA DE TODOS OS PRINCÍPIOS DO ENTENDIMENTO PURO.

 

Vamos aos sintéticos!

 

Eis o primeiro parágrafo:

 

Se, de uma maneira geral, há princípios algures, deve-se unicamente ao entendimento puro, que não é apenas a faculdade das regras em relação ao que acontece, mas também a própria fonte dos princípios, segundo a qual tudo (quanto possa apresentar-se-nos como objecto) se encontra necessariamente submetido a regras porque sem elas nunca os fenómenos comportariam o conhecimento de um objecto que lhes correspondesse. Mesmo as leis da natureza, quando consideradas leis fundamentais do uso empírico do entendimento, implicam um carácter de necessidade, portanto, pelo menos, fazem presumir uma determinação extraída de princípios que são válidos «a priori», e anteriormente a toda a experiência. Mas todas as leis da natureza se encontram, sem distinção, submetidas a princípios superiores do entendimento, pois elas não fazem senão aplicá-los a casos particulares do fenómeno. Só estes princípios dão, pois, o conceito, que contém a condição e como que o expoente de uma regra em geral, enquanto a experiência dá o caso que se encontra submetido à regra.

 

À maneira dos matemáticos, desembaracemos de parênteses; à maneira dos lacónicos, desembaracemos dos à-partes:

 

Se[, de uma maneira geral, ] há princípios [algures], deve-se unicamente ao entendimento puro, (que não é apenas a faculdade das regras em relação ao que acontece,) [mas também a própria fonte dos princípios, segundo a qual tudo (quanto possa apresentar-se-nos como objecto) se encontra necessariamente submetido a regras,] porque sem elas (essas regras) nunca os fenómenos comportariam o conhecimento de um objecto que lhes correspondesse. Mesmo as leis da natureza, [quando consideradas leis fundamentais do uso empírico do entendimento,] implicam um carácter de necessidade, [AQUI DEVIA HAVER UM PONTO] portanto, [pelo menos, ] fazem presumir uma determinação extraída de princípios que são válidos «a priori»[,] e anteriormente a toda a experiência. Mas todas as leis da natureza se encontram[, sem distinção, ] submetidas a princípios superiores do entendimento, pois elas não fazem senão aplicá-los a casos particulares do fenómeno. Só estes princípios dão [, pois, ] o conceito, [que contém a condição e como que o expoente de uma regra em geral, ] enquanto a experiência dá o caso que se encontra submetido à regra.

 

Donde resultaria o que segue:

 

Se há princípios, deve-se unicamente ao entendimento puro – que não é apenas a faculdade das regras em relação ao que acontece – porque sem essas regras nunca os fenómenos comportariam o conhecimento de um objecto que lhes correspondesse. Mesmo as leis da natureza implicam um carácter de necessidade. Portanto, fazem presumir uma determinação extraída de princípios que são válidos «a priori» e anteriormente a toda a experiência. Mas todas as leis da natureza se encontram submetidas a princípios superiores do entendimento pois elas não fazem senão aplicá-los a casos particulares do fenómeno. Só estes princípios dão o conceito enquanto a experiência dá o caso que se encontra submetido à regra.

 

Os à-partes deviam ser objecto de notas de rodapé e as vírgulas a mais deviam ser metidas num saquinho e deitadas fora.

 

E a pergunta é: dá agora para perceber?

 

Síntese: Kant escrevia só para quem estava (e está) em condições de o perceber

 

1ª Conclusão: Kant não era lacónico.

2ª Conclusão: Tenho muito mais que fazer do que continuar a traduzir Kant para que passe a ser compreendido por não iniciados na má escrita kantiana.

3ª Conclusão: Não necessito de mais 82 anos para completar a obra que não farei.

 

Lisboa, Abril de 2013

 

 Henrique Salles da Fonseca

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