A EXCEPÇÃO QUE CONFIRMA A REGRA
Refiro-me ao texto do Francisco Gomes de Amorim sobre o hamburger e a lasagna.
Saindo o título das normas não escritas mas a que todos nos habituámos, também eu me autorizo a quebrar uma regra que desde sempre me impus e que é a de não comentar os textos alheios que publico no “A bem da Nação”.
E começo por considerar que para comer o que refere o título, não seria necessário chegar ao extremo de matar cavalos.
E se a carne de equídeo é perfeitamente comestível pelo homem, já a dos que o título do texto do Francisco Amorim refere pode ser indigesta por implicar antropofagia e, logo, cadeia.
Convenhamos que comer carne de cavalo não é minimamente aberrante e se eu o não faço isso se deve apenas ao facto de ter desenvolvido desde criança uma relação de afectividade com eles que me leva alimentarmente a optar por outras espécies tais como a vaca, o borrego e o porco. Mas se eu tivesse uma manada de vacas, seriam certamente leiteiras; as ovelhas seriam apenas para a produção de lã e os porcos morreriam velhos já que ainda não há próteses para lhes substituirmos os presuntos.
Tudo visto, o problema que levantou os ânimos dos europeus foi sobretudo uma questão de rotulagem não se informando convenientemente o consumidor mais sensível do que lhe iria correr pela goela. Qualquer questão que se levante relativamente à saúde pública, é puro sofisma. E como jornalista tende a ser sofista, embandeirou em arco com mais uma escandaleira que... não é! Eis como a montanha pariu apenas um conjunto de jornalistas mafiosos. Perdão, sofistas.
Encerrado o escândalo que não foi, venho aqui só para contar a versão que corre no meio equestre português sobre o célebre cavalo que deu título ao texto do Francisco.
Como todos sabemos e historicamente denunciamos, os ingleses sempre nos tiveram na conta de um povo menor e assim foi que se aproveitaram de a Corte ter saído para o Brasil evitando ficar refém das tropas napoleónicas para nos fazerem o que o corso tencionava fazer-nos: a colonização.
Foi com base nos trabalhos desenvolvidos pelo Exército Luso-Britânico comandado por oficiais ingleses (em que a «carne para canhão» era constituída pelos portugueses) que nos conseguimos finalmente livrar dos franceses. Isso, à custa da tirania de Arthur Wellesley, que veio a ser o 1.º Duque de Wellington.
Com a desmobilização dos ingleses, um dos oficiais (da nossa história não consta o nome do cavalheiro mas pelo nome do cavalo não deve ser difícil apurar de quem se tratava) que regressava a casa decidiu convidar o seu «impedido» português a acompanhá-lo pois demonstrara grande afeição ao cavalo que o oficial montava em Portugal assim revelando um carácter considerado apropriado à lide com os cavalos que o inglês possuía em Inglaterra.
E estamos todos a ver o boçal «impedido» português a limpar um “puro sangue inglês” com o ferro e a escova com que lidava com o dócil “lusitano”. De certo que fervia coice e dentada a cada escovadela. E vai daí o nosso homem a berrar com o super-fino cavalo do género «Ah ganda filho da ....», «Tá quieto filho da ....». E o Lorde gostou tanto da musicalidade que confirmou o nome que o português chamava ao seu cavalo.
Deu-se a feliz circunstância de esse cavalo ser um ganhador de primeiríssima qualidade e de ter sido disputado como padreador da raça cada vez mais apurada de corredores, a do «puro sangue inglês».
E a fama foi tal que actualmente não há inglês que não se orgulhe de ser descendente do «Filho da Puta». Perdão, cavalo inglês de pura raça.
Abril de 2013