O MEU MELHOR AMIGO - 4
Há coincidências que a razão diz ser difícil explicar e há acontecimentos que ligamos e temos por coincidentes.
O meu melhor amigo já não aguentava o período entre duas sessões semanais de quimioterapia porque esta já não estava a conseguir vencer o linfoma. Ultimamente, o Caramelo tinha um gânglio que lhe empurrava a traqueia e ameaçava sufocá-lo a qualquer momento.
Levei-o para o hospital onde quimicamente tentaram de novo reduzir esse tal gânglio. Debalde. O sofrimento não dava mostras de o abandonar e eu senti-me culpado por o estar a demorar nesse estado.
Tive que tomar a decisão de pedir que o pusessem a dormir. Não tive coragem de ir lá dentro ao recobro para me despedir dele.
Vim para casa e tentei desviar as ideias aqui no computador. E a certa altura, o computador bloqueou de modo completamente anómalo. Tive a sensação de que o Caramelo estava naquele momento a passar para a outra dimensão. Parei. Pensei no bem que ele espalhou durante toda a sua vida. Nada fiz e esperei. O computador desbloqueou-se e eu fiquei com a ideia nítida de que o Caramelo se tinha assim despedido de mim.
Engoli em seco.
Adeus Caramelo! Até logo, nesse lugar em que o tempo não é...
Lisboa, 21 de Fevereiro de 2013