COME CHOCOLATES, PEQUENA!
Costumo gostar dos textos do Dr. João César das Neves, que resultam de critérios de ponderação despidos de facciosismo, e pautados antes por uma seriedade de orientação sem resquícios daquela oposição de idiotia que se tem traduzido ultimamente no nosso país por uma provocação não propriamente musical – porque bem desafinada – mas macaqueadora da “Grândola” de Zeca Afonso, e de alcance só não nulo porque revelador da extrema inépcia de uma população geralmente com fraca prestação intelectual, refugiando-se em slogans ou músicas conhecidas na ausência de discursos mais elaborados, para silenciarem os governantes em prestação.
Mas este texto de César das Neves não pareceu seguir a mesma rota dos anteriores, e, reconhecendo embora a justeza de observação na generalização da responsabilidade na crise a toda uma população que teve parte no sumiço do bolo emprestado, achei demasiado drástica a inculpação de todos os cidadãos nele envolvidos, com a nem sequer minimização mas pura anulação das responsabilidades dos que dele comeram à tripa-forra, num semear de misérias – morais, espirituais, económicas – de que só um governo de gente íntegra, talvez – como este parece ser, pagando a nossa dívida -poderá, “à la longue”, fazer dissipar. Como não lhe vão dar oportunidade para isso, apeando-o ao som das Grândola ou doutra musiquinha idêntica, como a da gaivota também dos anos 70 que voava em liberdade, imagem para sempre, da nossa, não temos esperança de conversão.
Seremos sempre os “da mansarda”, como o Álvaro de Campos. Mas este não foi coitado, apesar de tanto o afirmar.
Os coitadinhos somos nós. Para sempre.
Para reler o texto do Dr. César das Neves, ver em http://abemdanacao.blogs.sapo.pt/862518.html
Finalizo, com o meu comentário ao texto do Dr. César das Neves no blog do Dr. Salles da Fonseca:
Para justificação da crise neste país, negar o contributo de tanta fraude cometida, de tantos jogos ilícitos do poder, de tanta construção desnecessária e propiciadora de delito, de tanta impunidade por efeitos de uma Justiça inexistente, etc., para analisar só a parte que todos tomámos no abocanhamento das côdeas que nos foram remetidas pelo poder, como disfarce, parece um afunilamento incriminatório sobre estes, e um branqueamento propositado dos meandros tortuosos daqueles. Não me parece justo isso. Todos estamos pagando agora, desfeitos os direitos adquiridos de estudo, de prática laboral, de empenhamento, de descontos que fizemos enquanto trabalhámos, cada vez mais igualados aos sem estudo, sem empenhamento, sem descontos, numa sociedade para uma igualdade sem elevação. E afinal, nunca chegaremos a tapar os buracos da ignomínia, por muito que se nos baixe o nível salarial. Somos, definitivamente, um povo de mínimos.