MONJAS DA LITERATURA – 3
Guilherme de Almeida, advogado, jornalista, crítico de cinema e poeta, que nasceu em Campinas no dia 24 de Julho de 1890 e faleceu em São Paulo, no dia 11 de Julho de 1969, escreveu Livro de Horas de Soror Dolorosa: a que morreu de amor. Há vinte anos leio esse livro extasiada. O poeta cria um monólogo na voz dessa freira imaginária, que simboliza a alma sedenta de Infinito.
Segue o poema “Oferenda”:
Em minha mão mais fresca que uma concha,
Suspendo aos lábios do Senhor
As lágrimas de fel da pobre monja
Que amou demais o seu amor;
Em minha voz de desbotados timbres,
Levo aos ouvidos do Senhor
Uma alma feita em sons, uma alma simples
Que amou demais o seu amor;
Em meu alento, onde ânsias se diluem,
Envio ao rosto do Senhor
Um coração desfeito numa nuvem
Que amou demais o seu amor;
Em meu burel que é um grande lírio negro,
Revelo aos olhos do Senhor
Um corpo, em luto eterno e sem sossego
Que amou demais o seu amor...
Como na valva fresca de uma concha
Ressoa o mar, deixai, Senhor,
Que tudo fale na canção da monja
Que amou demais o seu amor!
Soror Dolorosa descobre que o mundo “é tão belo na forma e tão triste no fundo” e que “todo amor não é mais do que um ‘eu’ que transborda.” Numa espécie de novo Cântico dos Cânticos declara que o seu Rei, o seu Bem-Amado é “longo e pálido/ Pálido e longo como um lírio/ e suave e bom como um perdão.”
Livro de Horas de Soror Dolorosa: um longo e profundo poema sobre o relacionamento da Alma com o Outro, em eterna fusão de Amor e Dor.
Raquel Naveira