MONJAS DA LITERATURA – 2
Florbela Espanca, assim como Mariana Alcoforado, nasceu no Alentejo, Portugal, em 8 de dezembro de 1894. Escreveu Livro de Soror Saudade em 1923. Infeliz nos vários casamentos, ficou com os nervos exaustos. Morreu, talvez de suicídio, em 1930. Depois de Mariana, nunca houve uma poetisa do amor tão forte quanto Florbela, um calvário amoroso como o de Florbela.
Américo Durão, poeta, escritor, colega de Florbela na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, em dezembro de 1919, publicou na página literária do jornal O Século um soneto dedicado a ela, no qual lhe chamou de “Soror Saudade” . Segue a estrofe:
Irmã, Soror Saudade, ah! Se eu pudesse
Tocar de aspiração a nossa vida,
Fazer do mundo a Terra Prometida
Que ainda em sonho às vezes me aparece!
A resposta de Florbela veio publicada em forma de soneto, “O meu Nome”, que depois foi alterado para “Soror Saudade”:
Irmã, Soror Saudade, me chamaste...
E na minh’alma o nome iluminou-se
Como um vitral ao sol, como se fosse
A luz do próprio sonho que sonhaste.
Numa tarde de Outono o murmuraste;
Toda a mágoa do Outono ele me trouxe;
Jamais me hão-de chamar outro mais doce;
Com ele bem mais triste me tornaste...
E baixinho, na alma de minh’alma,
Como bênção de sol que afaga e acalma,
Nas horas más de febre e ansiedade,
Como se fossem pétalas caindo
Digo as palavras desse nome lindo
Que tu me deste: “Irmã, Soror Saudade”...
Um ano depois, Américo Durão enviou à poetisa, que passava as férias de Natal em Vila Viçosa, a página de jornal onde os dois sonetos foram publicados. O epíteto “Soror Saudade” tornou-se um símbolo da estratégia de ocultação que ela iniciou com o seu Livro de Soror Saudade, uma espécie de aura de clausura em que ela se envolveu. Em seu poema “Lágrimas ocultas”, Florbela refere-se a si mesma como tendo o “rosto de monja de marfim” e em “Castelã da Tristeza” como aquela que chora, lendo, toda de branco, “um livro das horas,/ À sombra rendilhada dos vitrais”.
Soror Saudade foi mesmo nome perfeito para seu alter-ego de artista e esteta.
Raquel Naveira