POSTAIS ILUSTRADOS LXV
A ECONOMIA DO FUTURO
PARTE III
Eliana Cardoso, Economista Brasileira (1), sobre a Economia afirma que esta ensina-nos que os homens fazem escolhas, ao porem na balança os custos e os benefícios de suas acções, e tentam maximizar o proveito individual que eles tiram destas.
E reitera que é esse princípio que qualquer economista conhece e conclui que é incrível que, como algo tão trivial, pode dar aso à criação de uma ciência que tem tanto poder (a Economia), tal como para explicar as coisas que nós observamos, ou, tal como para elaborar predições e prescrever políticas. Penso ter traduzido o pensamento desta brilhante Economista, pensamento no qual me revejo e que abordarei em próximos textos.
Esta conclusão já eu tirei no texto anterior, (2), ao afirmar, por outras palavras, que a Economia é uma “ciência de contrários ideológicos e causalidades empíricas”.
Isto é, a Economia, como ciência, adquiriu poder, precisamente, por estar intimamente ligada ao factor humano e aos interesses individuais produzidos por este. Interesses que estão agarrados como um apêndice, indissociável do homem e que é o seu rico e estimado bolso.
Tenho um amigo meu que me contou que uma vez, em negociação com um banco para um empréstimo à sua empresa, comentou com o negociador, qualquer coisa deste género: “É pá! Vocês são uns gajos impagáveis! Quando está Sol abrem-nos um guarda-chuva! Quando chove, fecham-no!...”. Esclarecedor e irónico! E este meu Amigo, de certeza, não conhece Albert Otto Hirschman, (3) como eu não conheço, mas, li a citação, que dele fizeram e versa qualquer coisa parecida, diametralmente oposta, nestes termos, “A economia moderna imita o paraquedas: só funciona quando está aberta”.
Mas, passemos ao que aqui me trouxe.
Começando pelo fim a que quero chegar, não podemos esquecer que as palavras escritas acima se referem à Economia Tradicional, em que o processo económico está voltado para a preocupação exclusiva da acumulação de capital emergente do efeito marginal contabilístico da receita versus despesa, que resulta no superavitou no deficit.
Com superavit o sistema está feliz!
A Economia Tradicional vive da frieza contabilística ligada ao Lucro, não importando se o efeito marginal deste elemento diabólico, provoca desequilíbrios sociais que conduzem a injustiças e falta de equidade, e, até, à miséria, como escalão mais baixo da pobreza.
Porém, a Economia, cujos factores dependem da decisão humana, não é uma ciência estática e tende a progredir, como ciência da condição financeira no seio das sociedades e a comportar-se modernamente como esta, ou seja, a reagir dinamicamente, como a Sociedade, em módulos sectoriais de reformulação e processos de reorganização mais amplos, até à Globalização.
Esta é a Economia Moderna a posicionar-se para o futuro, para a compreensão de um mundo melhor que só será possível quando as gritantes desigualdades financeiras entre os ricos e os pobres evoluir substancial e gradualmente, para o equilíbrio “mágico”, acreditando eu, que isto seja possível, na posteridade, lá para o Séc XXX!
Até lá muita água vai correr debaixo das pontes e muito sofrimento se espalhará neste longo caminho.
Quando isto suceder, o Mundo reconhecerá a Segunda Parusia.
Esperança há…
Para tanto, o Economista do Futuro deverá encontrar soluções, sem ambiguidades, para que o Homem Social esteja acima do individualismo do Homem Económico.
Fico-me com este texto do Professor Agostinho da Silva, sob o tema, “Combater a Opressão” e que dirijo aos Economistas do Futuro: “É certamente admirável o homem que se opõe a todas as espécies de opressão, porque sente que só assim se conseguirá realizar a sua vida, só assim ela estará de acordo com o espírito do mundo; constitui-lhe suficiente imperativo para que arrisque a tranquilidade e bordeje a própria morte o pensamento de que os espíritos nasceram para ser livres e que a liberdade se confunde, na sua forma mais perfeita, com a razão e a justiça, com o bem; a existência passou a ser para ele o meio que um deus benevolente colocou ao seu dispor para conseguir, pelo que lhe toca, deixar uma centelha onde até aí apenas a treva se cerrara; é um esforço de indivíduo que reconheceu o caminho a seguir e que deliberadamente por ele marcha sem que o esmoreçam obstáculos ou o intimide a ameaça; afinal o poderíamos ver como a alma que busca, após uma luta de que a não interessam nem dificuldades nem extensão. (4)
(1) Eliana Cardoso, Economista
Brasileira, Formada em Economia pela PUC – Rio de Janeiro (1972); Doutorada em economia no MIT; Professora Catedrática, trabalhou como Economista-Chefe no Banco Mundial e como Conselheira do Departamento de Pesquisa no FMI
(2) Postais Ilustrados LXIV – Economia do Futuro;
(3) Albert Otto Hirschman. Economista Alemão - (1915)
(4) Agostinho da Silva, in 'Considerações' - Fonte“Citador”