PATCHWORK PORTUGUÊS
Que as línguas vivas mudam
É ponto bem assente,
Mas que se suicidam,
É algo que se pressente.
Uns pontapés na gramática,
Terminologia popular,
E uma pitada de “modernática”,
E em breve se há-de assim falar:
Houveram dias na minha vida
Como um há vinte e um ano
Foi a cena mais curtida
E vou-te já contar ó mano.
Alevanto-me na descontra,
Como uma anêspera e bazo.
E quem é que euzinho encontra
Por um feliz ocaso?
Um bróder com buéda guito
E que tinha almorroidas
E por isso um andar esquisito
Que punha as chavalas doidas.
Tásse meu puto, disse eu,
E ele logo arrespondeu:
Bora tomar a carreira
E apanhar uma bubadeira.
E vamos para a casa dele
A mãe gorda tal cachalote
Vivia com um tipo rele
Que ganhara o jack do pote.
Assentamo-nos no quarto
O mesmo onde tinha nascido,
E que por ter engolido o parto
Da mona não tinha invluído.
No pechiché tão uma jolas,
Diz o bacano pr’a mim,
Pega nelas e trázeas.
Bora buer pó jardim
Eu digo as coisa, tu fázeas.
Ya meu, arrespondo eu,
E lá vamos ambos os dois,
Inté que páro e digo: ó meu!
E que vamos fazer despois?
Ora népia é só chamar
E há-des ver as garinas
Logo a s’aproximar,
Das grandes às mais caninas.
E é então que se m’aparece
A chavala mais brutal
Coisa que só te acontece
Uma vez ou coisa e tal.
Tu és homem sexual?
Pergunta pr’a começar.
Digo eu: tás-te a passar?
Ó minha cai na real.
Ela fica tão pasmada
Que diz logo de enfiada:
Já há bué que procuro,
E olha tem sido duro,
Um brother que seja macho,
E vai daí que te acho.
E é logo nesse momento
Que a gente nos ajuntamos,
E se às vezes não auguento
O certo é que ainda tamos.
Falar bem, nós não falamos
Mas lá felizes nós samos.
Helena Salazar Antunes Morais