LIDO COM INTERESSE – 58
Título: O TCHEKISTA
Autor: Vladímir Zazúbrin
Tradutor: António Pescada
Editora: ANTÍGONA, Lisboa
Edição: 1ª, Outubro de 2012
Quando os comunistas portugueses se me queixarem futuramente dos maus-tratos que sofreram às mãos da PIDE, vou responder-lhes com uma enorme gargalhada e mandá-los ler este livro. Comparados com os agentes da Tcheka, a antecessora do KGB, os agentes da PIDE eram meninos de coro.
Em 9 de Agosto de 1918, Lenine telegrafava ao comité executivo de Penza: É indispensável aplicar um terror de massas sem piedade contra os kulaks, os popes e os guardas brancos. Fechar os suspeitos num campo de concentração fora da cidade. Telegrafar execução.
No mesmo dia a mensagem telegrafada ao seu camarada Fiódorov, presidente do comité executivo de Nijni-Nóvgorod, era de tom semelhante: Mobilizar todas as forças, aplicar imediatamente o terror de massas, fuzilar e deportar as centenas de prostitutas que embebedam os soldados, os antigos oficiais, etc. Sem perder um minuto.
Em 22 desse mesmo mês, ao seu camarada Pajkes, em Saratov: Fuzilem sem perguntar nada a ninguém e sem delongas, imbecis.
Os elementos da Tcheka executavam rigorosamente as ordens recebidas do louco Lenine que, afinal, era tão desvairado como o seu sucessor Estaline e como o louco Hitler que apenas deles se distinguia por se ter posto do outro lado da barricada.
E o Autor conduz-nos por um extenso mar de horrores para concluir que as pessoas capazes de resistir à violência e à mentira eram destruídas, deixando lugar a uma raça de conformistas extenuados...
O poder destes celerados durou 70 anos na Rússia ultrapassando em muito os limites admissíveis por qualquer povo que não tivesse sido estupidificado, mortificado, amedrontado, encharcado em vodka.
O autor, Vladimir Zazúbrin, nasceu em 1895, filho de um ferroviário, completou um curso numa escola técnica e cedo aderiu ao bolchevismo. Mas não resistiu à violência dos fuzilamentos a que tinha que assistir e chegou ao ponto de escrever que o bolchevismo é um fenómeno doentio passageiro, um acesso de raiva em que agora caiu a maior parte do povo russo.
Eis como se pôs a jeito para que em 6 de Dezembro de 1938 o fuzilassem.
Uma obra claramente realista mas, por isso mesmo, asfixiante, escrita em 1923 mas só publicada na própria Rússia em 1989 quando, nas palavras de Dmitri Savitski, o apresentador da obra, Gorbatchov já desligara o KGB da corrente obrigando o seu pessoal a frequentar cursos acelerados transformando o canibalismo em jardinagem.
Lisboa, Novembro de 2012