DEVANEIOS
(*)
CAPITALISMO SELVAGEM A DESAPARECER…
I
Todo o mundo foi violentamente sacudido nos finais da 1ª década do século XXI pela massiva falência de empresas bancárias, bolsistas, financeiras, prestamistas e seguradoras, com milhões dos seus fregueses atirados ao desespero e à extrema penúria. Essas organizações foram vítimas de sua ganância de lucros fabulosos a qualquer custo, de transacções fraudulentas gigantescas e de prevaricadas distorções nas taxas interbancárias, mais conhecidas como taxas de juros LIBOR- London Interbank Offered Rates – fixadas pela organização Barclays, de Londres e praticadas pelas suas Agências continentais!
Se o Presidente Barack Obama não tivesse actuado com tino e rapidez contra a onda devastadora de derrocada bancária e financeira com a criação de crédito ilimitado sob empréstimo a juros do Tesouro Federal dos EUA, o mundo ainda estaria mergulhado no marasmo.
A crise foi dominada com recuperação dessas organizações, mas de modo lento, o que provocou inúmeras falências de outras pequenas e médias organizações congéneres e gerou um alarmante nível de desemprego. Homens e mulheres válidos foram jogados a um canto, através do Mundo, excepto em alguns países de reconhecido desenvolvimento. Os desempregados viram-se privados de suas casas ou abrigos, sem água, sem luz e sem energia contra as intempéries da Natureza.
Contra este sinistro quadro económico e financeiro acaba de ser lançado nos EUA um sensacional livro The Responsible Company, de dois co-autores: Yvon Chouinard /Vincent Stanley. Eles proclamam uma nova doutrina do chamado Consumismo económico com o fabrico de aparelhagem, equipamento e objectos de boa qualidade, não descartáveis, recicláveis e reparáveis para seu renovado uso. Eles denunciam a manobra das empresas capitalistas ao lançar no mercado artigos, equipamento e aparelhos de inferior qualidade descartáveis ao monturo, forçando o consumidor a fazer novas compras sofisticadas a elevadíssimos preços, agravando o meio ambiente na procura de novos materiais, de óleos petrolíferos, de mais água, mais energia, de tintas e de aço, sobrecarregando o ambiente com alto teor de monóxido de carbono.
II
Segundo a revista FORTUNE (Volume 166, nº 3 de 13.08.2012), Yvon Chouinard é dono e director da empresa Patagonia, especializada no fabrico de tecidos para uso exterior, com vendas anuais ultrapassando U$ 400.000, e é alguém que recomenda aos seus fregueses sopear o consumo, com uma insistência semelhante à do senador Romano pedindo a destruição de Cartago. Chouinard conseguiu convencer o responsável da organização Wall Mart, de Bentonville, Arkansas (USA) a juntar-se-lhe em parceria para formação da grande fábrica de tecelagem Sustainable Apparel Coalition, reclamando mais de 30% de vendas globais de tecidos a nível mundial, o que não deixa de ser assombroso.
Para terminar: Será utopia aguardar nos próximos anos o desmoronamento do capitalismo selvagem, previsto e advogado por Yvon Chouinard e seu amigo e co-autor Vincent Stanley? Só o tempo nos poderá dar a devida resposta à momentosa questão de consumismo exagerado denunciada pelos dois norte-americanos, doutrinadores do regresso ao chamado consumismo económico. Contentemo-nos com a sabedoria do aforismo popular que afirma que a verdade e o azeite vêm sempre à tona!
Alcobaça, 10.09.2012
Domingos José Soares Rebelo