ENQUADRAMENTO GEOPOLÍTICO E ...
GEOESTRATÉGICO DAS CAMPANHAS ULTRAMARINAS
1954-1974
II
O Ataque
“Parta V. Exª descansado que eu não deixarei ficar mal a bandeira portuguesa!”.
Aniceto do Rosário
(Para o governador do Estado da Índia, antes da ocupação dos enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, pela União Indiana, em 20 de Julho de 1954)
Como se sabe Portugal foi atacado, militarmente em quatro locais diferentes, se deixarmos de fora a ridícula e mesquinha ocupação pelo Daomé, da nossa fortaleza de S. João Baptista de Ajudá, em 1 de Agosto de 1961, porque - segundo eles - “constituía um perigo para a paz mundial”… Resta dizer que a Fortaleza estava ocupada por dois funcionários, a mulher e a filha de um deles e um serviçal, os quais se portaram com grande dignidade.
Estamos a falar do Estado da Índia e de Angola, Guiné e Moçambique.
Há aqui, todavia, que estabelecer uma diferença entre o que se passou no primeiro e nos outros três territórios; de facto a agressão a Goa, Damão e Diu configurou um conflito clássico enquanto os restantes três foram objecto de uma acção subversiva que degenerou em guerrilha.
Assim, no caso primeiro foi a União Indiana como estado soberano que se assumiu como agressor - com o apoio da URSS e da maioria dos países terceiro - mundistas (mas não da China); enquanto que, nos restantes casos foram criados vários movimentos independentistas que tinham as suas principais bases de apoio nos territórios limítrofes aos nossos e uma vasta ajuda do bloco soviético ou por eles influenciados, China, países da OUA e, até, o apoio moral e financeiro de alguns países do bloco ocidental que se diziam aliados de Portugal.
O ataque da União Indiana a Portugal pode ser dividido em quatro fases: a primeira fase teve início em 1947 e durou até ao ataque ao enclave de Dadrá e Nagar-Aveli, em 1954. Foi a fase de persuasão e pressão política para negociar a entrega; a ocupação dos enclaves marcou o fim da via pacífica.
A segunda fase diz respeito à reacção indiana às tentativas de recuperação dos enclaves por parte de Portugal. A estas diligências Nova Deli respondeu com violações de fronteira, subversão interna, propaganda, guerra de nervos, agitação internacional, bloqueio, perseguições às comunidades goesas na União Indiana, etc.
A terceira fase foi a do debate internacional que se prolongou de 1955 a 1960 e que culminou com a sentença do Tribunal Internacional da Haia, favorável ao nosso País.
Pode dizer-se que Portugal conseguiu ultrapassar e vencer todas estas fases. Quando o governo indiano se deu conta que Lisboa não cedia e vendo frustradas todas as suas maquinações, urdidas durante 14 anos, resolveu deitar mão ao método que lhe restava: a invasão militar para a qual nem sequer tiveram a decência de nos declarar guerra. Tal aconteceu na noite de 17 para 18 de Dezembro de 1961, utilizando 45.000 homens (mais 25.000 de reserva), várias esquadrilhas de aviões de combate e a esquadra que incluía um porta-aviões.
As forças portuguesas com cerca de 3.500 homens, mal equipados, armados e municiados (e também mal estruturados), sem aviação e apenas com um navio de combate com 30 anos de serviço, renderam-se em menos de 24 horas, depois de algumas acções heróicas isoladas.
(continua)
João José Brandão Ferreira
TCor/Pilav (Ref.)