DESTINO
Aqui, neste ponto mais ocidental
Do continente europeu,
Que é um País,
Que é o meu,
Portugal!
Estou sentado nas rochas
E olho o oceano.
E navego nos meus pensamentos,
Transportados em barcos-palavras
Da minha Língua Pátria,
Vendida, atraiçoada.
Vão pensamentos sobre ondas azuladas,
Mas não ide ao engano,
Nem por rotas erradas,
Vão e entranhem-se nos areais
Da minha longa costa inteira.
Abram-se-me os arquivos da Memória
E reviva-se a História
Dos nossos antepassados,
A Verdadeira,
A Lusitana,
Cantada na epopeia camoniana,
Por palavras nunca antes escritas
Por Trovadores e Senescais.
Não vos lembro, hoje, Camões,
No dia de Portugal.
Sinto-me atraiçoado
E o Grande Vate não merece
Que o recordem noutra língua.
E, olhando o mar a rebolar-se na areia,
Lembro "O nosso Amargo Cancioneiro"
De Natália Correia.
Não porque ela, também, mereça,
Mas, porque nos diz:
"Dão-nos marujos de papelão
Com carimbo no passaporte
Por isso a nossa dimensão
Não é a vida, nem é a morte"
É! Natália da minha Mátria,
Amargo e verdadeiro!
A nossa dimensão é uma encruzilhada,
Com quatro caminhos cardeais,
Rosa-dos-ventos atrapalhada,
Sem saber para onde ir ou voltar,
Sem ter onde acostar e em que porto?
Enfrentando o Adamastor fero,
Se o nosso destino está morto,
O nosso futuro é zero.
Sintra, em 10 de Junho de 2012