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A bem da Nação

O PRIMO DO SUL

 (*)

 

Muito se tem falado dos Eurobonds, as obrigações europeias que, para alguns, seriam uma panaceia que resolveria todos os males e que só não foi realizada por culpa exclusiva da senhora Merkel. Na opinião desses crentes, a chegada ao poder do senhor Hollande irá resolver a equação, levando os alemães a aceitarem a receita.

 

Curiosamente, entre o muito que se vai lendo aqui e ali, parece haver falta de informação sobre a natureza dessas obrigações. Pior do que isso, há também muita desinformação. E, por isso, é conveniente descodificar uma palavra que entrou no jargão das conversas de café e das trocas ácidas de comentários nas redes sociais, mas que carece de contextualização.

 

Imagine o leitor, por um momento, que tem um primo que está em dificuldades financeiras. É gente boa, é um rapaz divertido, um estroina, que sempre teve uma atracção fatal pelo consumo, e quando teve uma folga fez investimentos de risco que depois não conseguiu suportar. O leitor, pelo contrário, é um homem regrado, que só gasta aquilo que pode, porventura algo sisudo, mas que cuida dos seus deveres e das suas obrigações.

 

Certo dia, o seu primo aparece a bater-lhe à porta a pedir-lhe auxílio. Já não tem dinheiro para os seus gastos, e só se consegue financiar junto de agiotas. Propõe-lhe então uma visita ao gestor do seu banco, para procurar uma solução. O seu gerente diz-lhe que como o leitor é pessoa de bem e de posses, está disponível para abrir uma linha de crédito acessível aos dois, desde que ambos se responsabilizem solidariamente pelo cumprimento escrupuloso das obrigações assumidas. O leitor quer ajudar o parente mas, quando chega a casa, ouve a sua família, que lhe explica que se aceitar a proposta arrisca a sua fortuna. Pior do que isso, uma vez que se um dos dois não cumprir aquilo a que se obrigou, responde o outro pela totalidade da dívida, Pode pois acabar na mesma posição que o seu primo, se ele não arrepiar caminho e mudar de vida.

 

Ora, este pequeno exemplo serve para explicar o problema que se vive na Europa. O leitor é a senhora Merkel, a sua família é o eleitorado alemão, o seu primo são os países incumpridores da Europa. A proposta que lhe foi apresentada pelo banco é idêntica à da criação dos Eurobonds.

 

Dir-se-á que os alemães beneficiam com a existência do euro e que, por isso, por razões de justiça e de interesse terão de ser capazes de fazer mais do que aquilo que têm feito. Deveriam abrir os cordões à bolsa e investir, em seu benefício, em infraestruturas de que precisam. Esse investimento teria, como vantagem colateral e nada despicienda, um impulso na economia europeia, com impacto directo nos países periféricos que têm excesso de mão-de-obra e que, dessa forma, adquiririam riqueza que, depois, iria ser utilizada a comprar produtos alemães. Ou seja, criar-se-ia um ciclo virtuoso, que estimularia toda a economia europeia.

 

Para voltar ao seu exemplo pessoal, caro leitor, e se a situação lhe fosse colocada, propunha-lhe que só aceitasse ser solidário com o seu primo se ele, pelo seu lado, se comprometesse a cumprir com as regras do jogo. Sendo assim, não virá mal ao mundo se aproveitar a disponibilidade dele, e a sua proverbial capacidade de se ajustar à mudança, para contratar os seus serviços.

 

Verá que desta forma conforta os seus familiares, que são gente desconfiada, mas que serão persuadidos se retirarem um justo benefício da sua generosidade. Compreenderá que a alegria do seu primo é irradiante, e vai contribuir para a sua qualidade de vida. Perceberá que, com o tempo, tudo isto resultará num aprofundamento do espírito de família, e que as diferenças que sempre existirão ente as vossas formas de viver deixarão de ser um ónus, para resultarem num claro benefício para todos.

 

É desta forma que consigo imaginar o aprofundamento da identidade europeia. Com todas as diferenças, é este o continente que temos. Aliás, quanto mais conheço o Mundo, mais o aprecio. Falta, apenas, que sejamos capazes de tirar partido das suas complementaridades e de entender e de respeitar a importância de todas as suas diferenças.

 

1 de Junho de 2012

 Rui Moreira

 

(*)http://www.google.pt/imgres?q=eurobonds&um=1&hl=pt-PT&sa=N&biw=1024&bih=735&tbm=isch&tbnid=oEKiIDG8rB-ewM:&imgrefurl=http://twistedeconotwist.wordpress.com/2011/09/15/goodbye-eurobonds/&docid=mMmtrYKUYdfXJM&imgurl=http://twistedeconotwist.files.wordpress.com/2011/09/eurobonds_13997951.png%253Fw%253D500%2526h%253D354&w=500&h=354&ei=vbrLT7n8DsrL0QWrj9nJAQ&zoom=1&iact=hc&vpx=717&vpy=418&dur=772&hovh=189&hovw=267&tx=193&ty=111&sig=109573699884915906692&page=1&tbnh=116&tbnw=164&start=0&ndsp=20&ved=1t:429,r:14,s:0,i:106

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