Os submarinos e a marinha de recreio
Desde que foi conhecida a decisão governamental de se adquirirem os submarinos, já lá vão uns largos pares de anos, que se verificou terem aparecido variadas críticas a tão caro investimento e que, na opinião desses críticos, tinha muito pouco interesse para o País.
Poderá perguntar-se por que razão haver tanta gente em Portugal contra o equipamento da nossa Armada com estes submarinos, que na opinião dos conhecedores da estratégia naval são fundamentais para a segurança da nossa vasta área marítima.
E a explicação é relativamente simples: porque a maioria da nossa população, incluindo a elite dominante, estava e continua a estar de costas para o Mar e para as atividades a ele ligadas, o que explica quase não termos Marinha de Comércio, a Marinha de Pesca tem vindo a ser reduzida ( na década de 80 pescávamos 90 000t/ano de sardinha, em 2010 apenas 27000 t) , a Marinha de recreio é a mais fraca da Europa que tem mar.
Embora nestes últimos anos tenha havido inúmeras afirmações públicas da importância do Mar para Portugal, desde decisões do Conselho de Ministros até afirmações do próprio Presidente da República que revelou ter alterado as suas convicções a este respeito que tinha quando foi Primeiro Ministro.
Por isso já tive oportunidade de afirmar que D. João II em 20 anos, sem escrever coisa alguma conhecida, abriu todo o mundo à penetração portuguesa, enquanto atualmente nos últimos 20 anos escrevemos e dissemos centenas de páginas mas nada fizemos de concreto, senão andar para trás!
Pois de facto nada aconteceu de concreto além de muitas reuniões, congressos, discursos, estudos excelentes como o do Prof, Ernani Lopes, muitas conferências realizadas desde 1984 na Academia de Marinha e na Sociedade de Geografia e noutras entidades mas nada mais.
Por exemplo no início da década de 80 foi apresentada à AGPL uma proposta para se construir em Algés uma marina para cerca de 2000 postos de amarração e em que se reservava uma área para a expansão do Aquário Vasco da Gama até ao rio mas a sua Administração achou preferível realizar um concurso, porque “seria possível aparecer melhor solução” que tão bem feito foi que ficou deserto e a sugestão de implantar no estuário do Tejo cerca de 20000 postos de amarração, sendo a sua maioria de baixo custo, teve igual sorte.
Aliás também recordo ter havido em 1998 numa conferência organizada pela Academia de Marinha e a Câmara Municipal do Barreiro a apresentação de um plano que previa a instalação ali de cerca de 4000 postos de amarração que permitiria a transformação deste município num grande centro náutico, criando alguns milhares de postos de trabalho. Ainda houve algumas reuniões com o seu Presidente e mais tarde algumas tentativas junto da AGPL e do IPTM tiveram a mesma sorte: nada aconteceu!
Aliás no Algarve onde há condições excelentes para a marinha de recreio nomeadamente no Sotavento Algarvio que tem apenas pouco mais de 800 postos de amarração e que tem potencial para 10 000 que lhe permitiria reduzir drasticamente o seu período de baixa atividade turística já há projetos para concretizar estes objetivos mas os investidores esbarram perante a imobilidade dos responsáveis governamentais e autárquicos e nada acontece!
Até dá a ideia que eles acham que Portugal não precisa de investimentos privados sustentados e rápidos em obter resultados.
Isto tudo para insistir na importância da marinha de recreio na formação da população, a começar na juventude e a continuar em todas as idades, o que para além do valor económico imediato permitirá um dia termos outra vez Marinhas de Pesca e de Comércio e assim toda a gente entender o que é ter interesses marítimos reais e não mais haver dúvidas quanto à utilidade dos submarinos.
Lisboa, 23 de Março de 2011
Publicado na Revista de Marinha Maio-Junho 2012