PROTESTOS
Os dias 25 de Abril e 1.º de Maio são momentos anuais de protesto, este ano com muito mais razão. Pela primeira vez a Associação 25 de Abril e o ex-presidente Mário Soares faltaram às celebrações oficiais do aniversário da revolução, facto inaudito e grave.
No meio do grande sofrimento nacional não surpreende a irritação. É compreensível e razoável. O que surpreende são duas coisas. Primeiro a ruptura com as instituições, chegando-se a gravíssimas atitudes antidemocráticas como a de Vasco Lourenço ao afirmar no discurso de 25 de Abril: «Hoje, os eleitos já não representam a sociedade portuguesa.» Depois surpreende que tenham estado calados durante os 20 anos em que acumulámos a monstruosa dívida que agora nos arruína. Afinal, a tão repudiada «ditadura dos mercados» só existe porque não soubemos gerir a casa e agora temos de pagar as benesses a crédito que todos tivemos durante décadas.
Esta não é a primeira, mas a terceira vez que o FMI é chamado a Lisboa para nos resolver uma emergência financeira. Curiosamente, na última, em 1983, era primeiro-ministro o Dr. Mário Soares, na altura fortemente zurzido pela austeridade que impunha ao País.
Então ele explicou repetidamente a necessidade de sacrifícios, acusando muito justamente os governos AD que o precederam. Essas palavras são precisamente as mesmas que o Governo actual utiliza, de novo com toda a razão. A zanga e o protesto são compreensíveis. Mas protestar é fácil. O que é difícil é apresentar alternativas. Não se ouviu uma única credível nestes dias de protesto.
João César das Neves