Sinistralidade elevada, porquê?
O artigo publicado no DN em 18 de Abril pp intitulado “Sinistralidade empobreceu o País” levou-me a apresentar este texto pois se constata que mais uma vez aparece este lamento, agora com números ainda mais crus que a sua ausência, mas continua a não ser este flagelo devidamente analisado e portanto a não se tomarem as medidas mais eficientes para a sua correção.
De facto há estradas e ruas mal desenhadas e/ou mal mantidas, sinalização deficiente ou inexistente, e por ventura mais alguns defeitos deste tipo, mas a maioria dos acidentes deve-se a erros humanos dos quais o mais corrente é a indisciplina dos condutores.
E por que razão há tantos condutores indisciplinados? E, já agora, só os condutores são assim?
Vendo bem, a principal causa da nossa crise actual foi a indisciplina generalizada dos políticos e de grande parte da população na condução da sua vida económica e financeira.
Então o que é isso da indisciplina?
É o inverso da disciplina e esta é o conjunto de regras que devem orientar o comportamento dos cidadãos. Há disciplina militar como há disciplina religiosa e nestes dois casos toda a gente tem consciência do que ela representa e porque ela existe.
Na vida em geral poderemos dizer que a disciplina, obviamente democrática pois em regimes ditatoriais é que tudo o que não é proibido é obrigatório, é a forma inteligente das pessoas conviverem harmoniosamente. Portanto nunca praticando actos que incomodem ou prejudiquem as outras.
Para isso há três condições básicas:
1ª que todos sejam educados, isto é, ensinados e treinados a cumprir estas normas;
2ª que elas sejam cumpridas por todos os escalões da sociedade, até porque um dos factores essenciais da educação é o exemplo dado por aqueles que ocupam os lugares mais proeminentes;
3ª que haja enquadramentos propícios e sistemas de controle eficazes de forma a reforçar o esforço educativo e em último caso em punir os prevaricadores quaisquer que eles sejam.
Posto isto, a disciplina pode definir-se como a relação entre as normas que são cumpridas e as que existem no enquadramento legal.
Se forem todas cumpridas a disciplina será 1, se não forem este valor descerá até zero quando nada for respeitado.
Assim, quando se faz uma lei, como por exemplo no que respeita o ruído ou a higiene e a segurança relativa ao comportamento de cães na via pública, mas nada se faz para que seja cumprida, está imediatamente a criar-se um foco de indisciplina.
Também quando os municípios não criam estacionamentos suficientes e depois consentem o estacionamento em cima dos passeios onde de vez são multados, ou quando organismos oficiais estacionam as suas viaturas em locais proibidos, mais focos de indisciplina estão a ser criados.
Verifica-se assim que os cidadãos, desde a mais tenra idade são bombardeados com actos indisciplinadores nos bairros, nas escolas, na vida política, em todo o lado, e portanto dificilmente poderão comportar-se disciplinadamente.
E a indisciplina, como é o inverso da disciplina, cresce exponencialmente e quando esta desce para perto do zero, aquela atinge valores elevadíssimos e daí tantos acidentes.
Conclusão: se querem de facto diminuir a sinistralidade a sério, não é de vez em quando porem milhares de polícias nas estradas, mas antes resolverem capazmente a circulação e o estacionamento nas cidades e nas estradas, e convencerem-se todos os que têm responsabilidades a só fazerem leis que possam fazer cumprir e cumprirem todas as leis que já existem.
Lisboa,18 de Abril de 2012
nossomar.blogs.sapo.pt
Publicado no DN em 4 de Maio de 2012