PARTIR E CHEGAR
Partir, sair dali, ir à’ventura,
Beber no riso gemas de loucura,
Pular a sebe, quando nasce a aurora,
Saudade pendurada num abraço,
Sair, pé ante pé, puxando o passo,
Sem dizer a ninguém que vai embora.
Assim é a partida de quem traz
Na mochila a penhora de rapaz,
Que não vê um caminho à sua frente.
Partir, abrir a porta do futuro,
Ser pardal de telhado, bico duro,
Ir longe procurar sua semente.
Voltar co’o vento norte, é bom também,
Se acaso se ganhou quanto convém,
Em todos esses anos na lonjura,
Nas terras do suor e do demónio.
É que se foi vestido de campónio
E se volta mais rico de cultura.
Porém, outros regressam suspirando,
Depois de anos passados labutando,
Sempre a boiar nas ondas do cansaço.
Deixaram lá a carne e a alegria
E mostram no sofrer de cada dia
Vergonha da pobreza e do fracasso.
Faro, 09-01-2012
Tito Olívio