O PROTAGONISMO POLÍTICO CAMUFLADO NA A25A
A “Associação 25 de Abril” (A25A) fiel à ideologia inicial do seu “Abril não desarma” declara que “não participará nos actos oficiais nacionais evocativos do 38.º aniversário do 25 de Abril” mas sim em comemorações populares, traduzido isto em texto claro: participará em comemorações arruaceiras. A A25A quer ver os militares abrilistas na rua antes que o povo os chame à responsabilidade. Nestes festejos, a sociedade portuguesa deve estar atenta não só aos que comemoram a oficialidade como também aos mais populistas, aos “conscientes das obrigações patrióticas que a nossa condição de Militares de Abril nos impõe…”, aos que, oportunamente abandonam as bancadas, como faz agora Soares. Só assim, os portugueses poderão concluir do conluio entre irresponsabilidade política e popular para se tornar imune contra o oportunismo de ideologia e de rectórica alienante.
Aproveitando-se do mal-estar português, a A25A torna-se porta-voz de recalcados anseios dos seus “Militares de Abril” por um novo Golpe Militar. A A25A apoia descaradamente a opção militarista como solução para os problemas de Portugal, como Portugal fosse uma república das bananas interessada na solução árabe para Portugal. De facto, a A25A confessa, para quem lê nas entrelinhas: “declaramos ter plena consciência da importância da instituição militar, como recurso derradeiro nas encruzilhadas decisivas da História do nosso Portugal”. Portugal “nosso” deles…
Continua-se com a mesma oratória de há 200 anos para cá, como se os problemas políticos e sociais das sociedades modernas pudessem ser solucionados com uma rectórica irresponsável. Têm ainda a insolência de afirmar: “a nossa atitude não visa as Instituições de soberania democráticas”, como se esta acção demagógica não partisse de pessoas ligadas às instituições de soberania como é o caso de Militares e não fosse apoiada como pessoas como M. Soares.
Afinal, quem são os “Militares de Abril”? Uma aparição salvadora? O protagonismo político, que a A25A cobre, é irresponsável, num momento em que Portugal ferve e deveria reflectir sobre si mesmo e sobre estratégias isentas para sair da crise. Fala-se do Militares de Abril como se na terceira república não tivéssemos também os militares de Novembro. Será que as forças militares se sentem obrigadas a ideologias ou a facção abrilista está interessada em criar o caos em Portugal?
Os interesses da facção dos “Militares de Abril” e seus aliados, em tempos de crise descobrem a rua e muitas autarquias locais como campo de acção, para, por trás do mito de Abril (Primavera) poderem continuar a vestir a pele de cordeiro e poderem, no ribeiro popular, afirmar que quem “suja” a água não são eles mas os outros, os maus. Camuflados dos ideais de liberdade, justiça e libertação enganam o povo dizendo “A A25A participará nas Comemorações Populares e outros actos locais de celebração do 25”.
É cinismo verificar como “Militares de Abril”, que, com os seus cúmplices de partido, atraiçoaram os interesses de Portugal, a nível internacional, se querem agora aproveitar da crise e das insatisfações do momento bem como correspondente descarga de culpas no estrangeiro. A culpa morreu solteira, sabia o povo de antigamente! Em nome de Abril, a terceira república meteu a carroça da nação na lama e os seus beneficiados querem-se agora ilibar, armando-se em libertadores da nação. Coisa semelhante aconteceu na primeira república que depois deu origem à do Estado Novo. A Nação portuguesa já está habituada a ser o bombo da festa de oportunistas à espera do momento para assaltar o Estado. Quem provou os seios do Estado foge do povo para se alimentar dele.
Na sua ética e moral jacobínias atiram pedras escondendo-se por trás de palavrinhas mágicas como liberdade, cidadania. Do alto do barranco do protagonismo político da A25A, pretendem a sua “Integração plena na sociedade portuguesa” como se eles não se tivessem de integrar na sociedade portuguesa. Esta mentalidade tem sido o cancro da nação: em vez de se pretender integrar as partes no todo pretende-se reduzir o todo à parte!
Que as condições mercantilistas impostas a Portugal devam ser contestadas é lógico mas que o movimento republicanista se lave as mãos da lixeira por ele criada, ultrapassa os limites do tolerável.
O que falta em Portugal é o sentido dum trabalho produtivo, um voltar à terra e ao povo deixando a ideologia que apenas serve os privilegiados, os tais de “corpo inteiro”, já que turbo-capitalismo e esquerdismo só valorizam o trabalho à custa da dignidade humana. Os quadros da ideologia e da economia, esses, os senhores da ética (que enriqueceram à custa do 25 falam agora de “ética como “palavra vã”) são os novos-ricos alimentados à custa da exclusão social e de dinheiros da UE. Senão observe-se a excrescência que o 25 de Abril tem produzido: gente esfomeada do dinheiro e da ideologia a viver seus nichos e uma pobreza cada vez mais envergonhada. Enriqueceram à custa da revolução e à sombra da revolução atiram pedras sabendo bem que quem paga a crise não são eles, os encostados à Nação mas sim o povo que a alimenta.
Construíram um Portugal dos oportunos (somos dos países com mais cargos em instituições internacionais e vêm agora queixar-se que “Portugal não tem sido respeitado entre iguais”. Precisam dum Portugal vítima para não terem de ser chamados à responsabilidade. Os delinquentes são sempre os de fora! Para si só importam o marisco!...
Falam de barriga cheia porque sabem que a crise, seja ela qual for, só ajuda os das margens da esquerda e os das margens da direita. A terceira república fomentou a irresponsabilidade, o medo sub-reptício, o conformismo e o oportunismo; tudo isto em nome do combate ao fantasma de Salazar, pensando que se pode viver à custa do trabalho dos outros. O povo não come moral nem ideologia e neste momento o que tem é fome, fome de justiça e de trabalho digno e de honra ganha com o próprio esforço.
Os Militares revolucionários de Abril queriam-nos um protectorado de Cuba, Pequim e Moscovo e, agora, no seu camuflado de libertadores abrilistas, acusam-nos de sermos um “protectorado”. Protectorado não é porque Portugal conhece bem o sol do oportunismo e a sua situação de terra maninha, a terra do que é mais forte. A nossa História dos últimos séculos só dá razão aos fracos no momento em que servem de plinto para os mais fortes subirem.
No manifesto da A25A, incapazes (a situação em que nos encontramos é disso a prova) acusam Portugal de ter “dirigentes sem capacidade autónoma de decisão” como se não tivessem sido eles, também, quem na altura abdicou de Portugal para se deixar ir na corrente mais forte.
O regime da terceira república configurou a Constituição Portuguesa e o povo na afirmação dos seus ideais e valores ideológicos e numa estratégia de derrube de tudo o que cheirasse a tradição ou a ética da responsabilidade pessoal e institucional. O povo dançou e dança nele ao toque das bandas políticas deles e da moda; agora sofre as consequências e os organizadores da festa têm o desplante de se armarem em homens bons. Porque “Abril não desarmou”, Portugal chegou onde chegou. Há 38 anos os militares de Abril na “convicta certeza „ de só eles serem os porta-vozes do povo, quando, o que fizeram foi substituir um regime autoritário por outro, e permanecer na “convicta certeza” de só terem certezas para oferecer, esquecendo que o que faz um povo crescer é a dúvida metódica. Se “Abril não desarma” o povo encontra em guerra: a guerra do oportunismo só serve os tais que sempre vivem encostados à “convicta certeza” como quer a A25A.
Ontem como hoje os portugueses gritaram e gritam por liberdade; ontem como hoje os responsáveis falam da culpa dos outros e o mesmo povo entra no jogo não notando que está sempre a canto! O que Portugal precisa não é de revolução, o que o precisa é de responsabilidade. Quem aposta na culpa dos outros precisa de um inferno para eles! Esquece que o paraíso que tem para oferecer é o inferno dos outros também!
Viva Portugal, termina o manifesto. Os mercenários internacionalistas de outrora camuflam-se agora de patriotas e gritam a palavra oportuna do momento:
Viva Portugal!
António da Cunha Duarte Justo