ALGARVE - SOTAVENTO ADIADO
O caso de Tavira
Desde há vários anos que venho defendendo a necessidade e o interesse no desenvolvimento náutico do país em geral e do Sotavento em particular, com resultados práticos quase nulos.
O primeiro município que estudei foi o de Tavira pela razão simples de ter raízes familiares nesta cidade, passar todo o tempo disponível aqui e até ter sido durante quase dez anos nela residente.
Em 2004 apresentei no congresso do Racal uma comunicação sobre o desenvolvimento do Sotavento onde sugeri o estabelecimento de cerca dez mil postos de amarração, dos quais 2000 seriam em Tavira.
Como é sabido a maior riqueza potencial desta cidade é o conjunto das actividades marítimas que é possível praticar aqui, quase todas elas passíveis de usufruto todo o ano, com excepção do Sol e praia que não chega a dois meses de prática, do golfe e de actividades culturais e desportivas ligadas ao património e à serra e ainda da capacidade muito mal aproveitada da produção agrícola aliás essencial para contribuir para a maximização do valor acrescentado do produto turístico.
Durante muito anos os nossos responsáveis davam a ideia de que só conheciam o Sol e praia, esquecendo-se de que o turismo no Algarve se iniciou exactamente ao contrário, quando os ingleses vinham passar os meses de Outubro a Março e não no verão, esquecimento este que levou ao desenvolvimento de estruturas imobiliárias de baixo nível de qualidade e a taxas de sazonalidade elevadas.
A prática do golfe veio diminuir esta anomalia mas para diminui-la ainda mais, ou até eliminá-la, a única solução era e é o desenvolvimento das actividades náuticas, o que não exclui as outras atrás indicadas.
Assim foram apresentadas aos autarcas tavirenses várias sugestões concretas e realizáveis desde há quase duas décadas.
Durante a gestão do Eng. Macário Correia, seguindo a política anti-mar do seu partido PSD nessa época, nunca se conseguiu qualquer iniciativa neste capítulo.
Durante as últimas eleições dei todo o apoio que pude ao candidato do PS, Dr. Jorge Botelho, tal como tinha dado ao seu antecessor Eng. Fialho Anastácio nas anteriores, porque ele me mostrou interesse real nesta melhoria essencial para combater o desemprego e fortalecer a vida económica da
autarquia ou seja dos tavirenses.
Para concretizar estas ideias foram apresentados publicamente os ante projectos que garantiriam a Tavira uma redução relevante da taxa de sazonalidade, a criação de postos de trabalho e uma contribuição efectiva para a educação náutica da população em geral e da juventude em particular, o que é vital para se obter a máxima qualidade do produto turístico náutico.
Mas nada aconteceu até agora.
Todas as tentativas para colaborar com o actual Presidente da Câmara de Tavira têm sido frustradas e não se pode dizer mal recebidas, porque nem sequer o foram de todo.
Dois anos já se passaram. O desemprego continua a subir.
Quanto a iniciativas concretas para inverter este situação: nada.
As recomendações expressas pela UE ainda há alguns dias em Lisboa são no sentido do desenvolvimento náutico, certamente muito direccionadas
para Portugal pois é de facto o país europeu com maior atraso nesta matéria mas até agora nem o Governo nem as Autarquias mais apropriadas para este desenvolvimento têm mostrado interesse e iniciativas concretas.
E após 12 anos de anti mar parecia que os votos de mudança foram claros. Mas nada mudou, pelo menos até agora. Porquê? Não é de certo por falta de dinheiro, porque a maior fatia de investimento deverá ser realizada por privados e a que cabe à Autarquia não só é reduzida mas segundo foi anunciado na reunião de Lisboa terá ajudas comunitárias, se houver apresentação de projectos.
Então o que se passa com a Autarquia de Tavira?
Entretanto a cidade definha, os jovens têm que procurar trabalho fora, a reorganização indispensável da Autarquia com vista a reduzir custos e aumentar a competitividade dos tavirenses é adiada e a população e os políticos locais entretêm-se a dizer mal da “troika” mas nada fazem para contribuir para alterar a situação que esteve em grande parte na origem desta crise.
É tempo para que os responsáveis pelos destinos da Autarquia mostrem que são capazes de mudar o rumo em que vivemos nestes últimos vinte anos e transformem esta maravilhosa cidade num local desenvolvido e sustentado onde se elimine o desemprego e a emigração dos jovens.
Tavira, 13 de Dezembro de 2011
Publicado no Postal do Algarve em 3 de Fevereiro de 2012