VELHICE E SOLIDÃO
(*)
Velhice e solidão.
Pior? Acho que não.
Nada pior que a solidão
De gente esquecida
Mesmo até por aqueles
A quem deram vida
Mas que só pensam neles.
Velhice e solidão
Nada resta senão
A escuridão que se entranha
Nas entranhas da alma
Um silêncio que arranha
Uma amarga calma
Uma moínha a moer
Tudo e nada a doer.
Uma janela aberta
Num prédio da frente
Uma esperança incerta
De um dia ver gente.
Um telefone calado
Um vazio colado.
A lembrança dorida
De gente com vida
A memória nublada
De gente enterrada.
Uma espera constante
Que com alguma sorte
A qualquer instante
Chegue ao menos... a morte.
Gente que vive e morre sozinha
Que morre tão discretamente
Que até a gente vizinha
O ignora totalmente.
Helena Salazar Antunes Morais