A CRISE E OS EUA
Pode haver quem não goste do Obama. Se há políticos a quem eu tiro o chapéu, certamente este é um deles.
Assumiu um país em véspera de derrocada, ainda não igual ao trágico crash de 1929, mas a passos largos caminhando para lá.
Só que desta vez, os republicanos, donos do dinheiro, das fábricas de armamento e mentiras para continuarem guerras, não estão dispostos a colaborar para levantar o país.
E, racistas, querem também livrar-se da “vergonha” de terem um “preto” a mandar neles.
Assim, os EUA jamais se levantarão.
Todos sabem que para acabar, ou pelo menos enfraquecer grandemente a guerra com árabes, ou com o terrorismo islâmico, é preciso resolver o problema da Palestina. Obama assumiu a verdade e, com valentia, fez declarações que não agradaram aos donos do dinheiro,
e... é assim que esta gente vai fazendo os impossíveis para o derrubarem.
Vale a pena ler o texto abaixo, de um americano, Prémio Nobel.
(*)
O PÂNICO DOS PLUTOCRATAS
Ainda é preciso ver se o movimento “Ocupem Wall Street” vai mudar o rumo dos EUA. Mas os protestos já causaram uma notável reacção histérica de Wall Street, dos super ricos em geral e de políticos e especialistas que servem lealmente os interesses daquele
1% mais rico. E esta reacção revela algo importante: os extremistas que ameaçam os valores americanos são aqueles que Franklin Delano Roosevelt chamou de "monarquistas económicos" e não as pessoas acampadas no Zuccotti Park.
Considere em primeiro lugar como os políticos republicanos descreveram as modestas, porém crescentes, manifestações, resultando em confrontos com a polícia – que reagiu exageradamente – mas nada que possa ser descrito como baderna. Não houve, aliás, nada
remotamente parecido com o comportamento das multidões do Tea Party no Verão de 2009.
Apesar disso, Eric Cantor, líder da maioria da Câmara dos Representantes, denunciou as "gangues". Os candidatos presidenciais do Partido Republicano também criticaram, com Mitt Rommey acusando os manifestantes de provocar uma "guerra de classes", ao passo que Herman Cain os chamou de "antiamericanos". Mas o meu favorito é o senador Rand Paul, que, por alguma razão, teme que os manifestantes roubem iPods, por achar que os ricos não merecem tais aparelhos.
Michael Bloomberg, Prefeito de Nova York e um titã do sector industrial, foi um pouco mais moderado, mas, ainda assim, acusou os manifestantes de tentarem "roubar os empregos de pessoas que trabalham nesta cidade", uma declaração que não tem nada a ver com os objectivos do movimento. E se você acompanhou os debates com "comentaristas" na CNBC, aprendeu que os manifestantes estão "alinhados com Lenine".
O modo de compreender tudo isso é perceber que o fenómeno faz parte de uma síndrome mais ampla, na qual os ricos americanos, que se beneficiam de um sistema manipulado a seu favor, reagem com histeria a qualquer um que aponte exactamente o quão manipulado é o sistema.
Em 2010, um número de magnatas do sector financeiro-industrial explodiu ante uma leve crítica do Presidente Obama. Eles denunciaram Obama como sendo quase um socialista, por apoiar a chamada regra Volcker, que simplesmente proíbe que bancos que receberam ajuda
federal especulem. E quanto à reacção a proposta de fechar uma brecha que permite que alguns desses ricos paguem impostos extraordinariamente baixos?
Bem, Stephen Schwarzman, Presidente do Grupo Blackstone, comparou a proposta à invasão da Polónia por Hitler.
O que está a acontecer? A resposta, os mestres do universo de Wall Street, lá no fundo, já sabem: o quão indefensável moralmente são as suas posições. Eles ficaram ricos ao impulsionar esquemas industriais e financeiros complexos que, longe de trazer benefícios claros ao povo americano, ajudaram a empurrar-nos para uma crise cujos efeitos continuam a afectar a vida de dezenas de milhões de seus
cidadãos.
E, apesar de tudo, os ricos não pagaram qualquer preço. As suas instituições foram ajudadas pelos contribuintes sem que tivessem que se comprometer. Continuam a beneficiar de garantias federais explícitas ou implícitas. Esse tratamento especial não tolera uma revisão — e, portanto, segundo eles, não pode haver revisão.
Qualquer um que aponte o óbvio, não importa o quão moderadamente, deve ser diabolizado e expulso do palco.
Então, quem está sendo anti-americano aqui? Não os manifestantes, que só querem ser ouvidos. Não, os verdadeiros extremistas aqui são as oligarquias americanas, que querem suprimir qualquer crítica às fontes de sua riqueza.
PAUL KRUGMAN
Prémio Nobel de Economia e articulista do"New York Times”
Rio de Janeiro, 15/10/2011