UNIVERSIDADE DA LUSOFONIA – 2
PARA A INTEGRAÇÃO DO
ESPAÇO LUSÓFONO – ANTECIPAR O FUTURO
Uma Maneira diferente de estar no Mundo implica
uma nova Estratégia ligada a uma Pedagogia diferente
Um projecto político-pedagógico do espaço lusófono terá sempre como ponto fulcral fomentar sinergias integradoras de pólos extremos (masculinidade e feminidade).
A língua portuguesa / Lusofonia é o ponto de ligações e relações cruzadas de indivíduos, tribos, raças, civilizações, culturas e valores reunidos numa atitude diferente perante si e o mundo e numa maneira própria de estar e de ser a nível individual e social no e com o mundo. Neste sentido, ao repensar-se a Lusofonia, no âmbito da CPLP, contribuir-se-ia para uma maneira diferente de estar no mundo; aquela maneira de ser que a alma lusa realizou antes nas descobertas e continua hoje a realizar na emigração colaborando para a emancipação integral. Esta maneira der estar diferente (em sociedade e no mundo) interpretá-la-ia deste modo: uma maneira de ser relacional, cum grano salis (com humor).
A religião, a ciência, a política, a economia e a ideologia querem-se na sociedade e na vida apenas como partes complementares e encaradas com espírito de humor. O mesmo se diga quanto à energia masculina e feminina. A acentuação exagerada das forças masculinas (virilidade) na sociedade e na pessoa conduziu-nos ao impasse em que nos encontramos momentaneamente. Seria interessante, neste contexto ocupar-nos, um pouco, com o espírito luso, um espírito mais mãe que pai e que por isso se antecipou nas descobertas e se encontra espalhado em migração pelo mundo. Aquela atitude de alma escondida no coração dos marinheiros portugueses e que seguia nas naus/caravelas para novas paragens, realizava-se na admiração e mistura com as mulheres das novas paragens. Aqueles homens entregavam-se de coração e alma, sem preconceito, nos braços delas, para nelas se perderem, e ressurgirem de novo mais acrescentados no mestiço. Assim não só o Estado cumpria a missão civilizacional de dar novos mundos ao mundo mas também a alma lusa, a nível individual, cumpria o seu destino de se rever criando e dando novos mundos ao mundo, nas novas raças, nas novas maneiras de estar. A alma lusa, um estado híbrido de homem e mulher, reconhece-se bem no mestiço. Nela se junta o indivíduo e o colectivo e nela se esvaem os limites circundantes. A alma lusa não se deixa reduzir à definição.
Não faz a distinção clara entre poesia e prosa sabendo-se reunida na prosa poética. Sim, a alma lusa é prosa poética num acontecer de prosa a deslizar na poesia.
A componente civilizacional lusa terá que comportar sempre os diferentes pilares civilizacionais. Ultrapassa barreiras étnicas, culturais e continentais. Em vez de cultivar um ressentimento contra os seus invasores, sabe assimilar o saber das civilizações invasoras guardando delas, na memória colectiva, o saber e tecnologias (dos fenícios, egípcios, gregos, romanos, germanos, mouros…) que lhe passaram pelo território. Por outro lado soube chamar a Sagres, os melhores especialistas da altura em questões de navegação e astronomia. Dos seus antepassados, as tribos lusitanas, soube guardar o mito de que eram pacíficas, mas valentes e bons guerrilheiros quando atacados. Este espírito esteve na base do desenvolvimento do processo de miscigenação rácica e cultural concretizado no milagre brasileiro da miscigenação. Esta componente civilizacional é hoje continuada especialmente por portugueses e brasileiros espalhados pelo mundo.
Onde chegam integram-se como outrora os nossos antepassados integraram o que lhe parecia estranho. Daí a sua experiência: “À terra onde fores ter faz como vires fazer”. Assim, sem se imporem, levaram ao mundo, com espírito templário simbolizado nas velas das suas caravelas ("cruz de goles"), a missionação que foi o seu contributo civilizacional europeu para o mundo.
Portugal foi precoce ao assumir, outrora, a pesquisa científica e tecnológica como política de Estado. Soube reunir o espírito cristão (convergência da fé de Israel, filosofia grega e jurisprudência romana) ao saber tecnológico colocado como tarefa e missão de Estado. Já no início da lusitanidade, a corte atraia a si os sábios e técnicos do mundo, dando-lhes trabalho; Esta tradição tem exemplo já no próprio D. Dinis que se rodeava de literatos doutras regiões. Por outro lado, a tolerância portuguesa atraia também cientistas judeus perseguidos na Espanha. Numa estratégia de afirmação complementar soube integrar o espírito tribal lusitano, godo, judaico latino e árabe, tornando-o património do português e da nação, não se afirmando pela diferença mas pela integração. Esta via constituiu a diferença lusa na sua maneira de estar no mundo. Quem hoje teria melhores condições para liderar um tal projecto de Lusofonia seria, certamente, o Brasil.
(continua)
António da Cunha Duarte Justo