UNIVERSIDADE DA LUSOFONIA – 1
PARA A INTEGRAÇÃO DO ESPAÇO LUSÓFONO
ANTECIPAR O FUTURO
Criar uma nova Sagres do Espaço Lusófono
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A consciência social, na sua dinâmica de desenvolvimento foi evoluindo da organização de tribo para a estrutura de estado/nação, encontrando-se hoje, no seu flanco mais avançado, na era pós-nacional. Nesta era de mudanças globais rápidas, a nível de supra estruturas no sentido dum tecto comum, criam-se problemas de aferimentos de identidades culturais não chegando, para os resolver, uma ideologia apelativa ao progresso, ao dinheiro e relações de mercado, como se estes possibilitassem a formação duma plataforma metafísica de identificação comum.
A velocidade do desenvolvimento é tão rápida que torna inseguras pessoas, nações e culturas com outro ritmo ou estado de desenvolvimento. Para corrigir o curso geral da sociedade global a caminho da entropia, o espaço lusófono unido teria de tomar medidas de fomento duma consciência de pertença a uma biosfera natural e cultural comum, formada por “ecossistemas” étnicos de convergência numa relação de complementaridade. O biossistema necessita do Sol tal como o “biossistema” lusófono precisará dum ideário/vivência comum. Não é razoável a implementação dum sistema artificial de conexões baseadas no mero intercâmbio mercantil sem se ter em conta o substrato humano de relacionamento alicerçado na dignidade da pessoa humana e consequente comunidade.
Neste sentido, seria óbvio que os países do espaço lusófono (CPLP) se unissem na definição dos pilares dum tecto metafísico comum e para isso começassem por criar um modelo de universidades de expressão conjunta que se tornassem em oficinas mentais de todo o espaço lusófono. Os países da CPLP poderiam criar uma nova escola de Sagres, para si e para o mundo, na continuação do espírito do Infante D. Henrique.
Encontramo-nos num momento histórico de acentuada erosão do sentido de solidariedade, de comunidade e de dignidade humana. A sociedade do mercantilismo liberalista global impõe-se de maneira tão vigorosa que as nações não podem resistir à sua força, sendo levadas na sua avalancha. Isto só serve o grupo restrito dos mais fortes. Com a crise da civilização ocidental – civilização motora da História global desde os descobrimentos portugueses – todo o mundo se encontra em crise.
A crise é uma oportunidade, uma situação de gravidez que prepara o momento de dar à luz um novo ser. Trata-se de reconhecer não só os sinais dos tempos mas também as leis da evolução da História.
A mundivisão árabe é dominada sobretudo pelo princípio da subjugação e do medo, o mundo asiático pelo fado individualista/ funcionalista, o mundo cristão, que constituiria a mundivisão mais integral, aberta e humanista, encontra-se numa fase de desnudação da pessoa no sentido do indivíduo, a caminho dum tipo de homem chinês. O significado de pessoa e de comunidade são desvirtuados no sentido do indivíduo e do colectivo. Neste sentido convergem o comunismo materialista, o capitalismo liberal, o Islão e uma certa filosofia tradicional asiática. (De referir que capitalismo e comunismo são filhos do cristianismo!). A China e a Índia, se não se perderem em lutas intestinas, parecem preparar-se para determinar o destino da humanidade. Isto significará uma acentuação da degradação da pessoa para mero indivíduo (cliente e súbdito). Esta era, dum politeísmo oportuno, tem tanta força que ameaça arrastar, no seu movimento, não só nações, mas até uma civilização que pretendia compatibilizar monoteísmo e politeísmo, pessoa e sociedade.
Neste contexto seria a hora de o espaço lusófono tentar salvaguardar o genuíno espírito humanista e social que até a Europa e a América põem em perigo. Num mundo sem tecto metafísico chove por todo o lado, em casa e na sociedade.
O espaço cristão inclui uma visão optimista do mundo, precisando naturalmente duma clivagem como demonstra a sua crise. Os princípios da crise que dele surgiu contêm neles as forças para a sua solução.
Os países lusófonos têm já dado alguns passos no sentido duma maior interligação e co-responsabilização. Uma solução de perspectiva nacional não proporciona uma iniciativa à altura da exigência da época; esta precisa da complementação dum valor maior, um ideal comum a realizar. O Brasil criou a Universidade Federal da Integração Luso-Afro-Brasileira (Unilab) voltada para os países da África. O próximo passo seria a criação duma Universidade Aberta da Lusofonia para todo o espaço lusófono. Esta teria o fim de integração cultural, social, política, económica sob a bandeira da língua e duma mundivisão cristã aberta. O seu sentido seria fomentar uma cultura com uma identidade comum, partindo de sinergias já existentes nos países da CPLP mas a ser alargadas a uma nova filosofia e consequente estratégia.
A parceria solidária basear-se-ia no princípio da complementaridade (convénios de cooperação e intercâmbio científico e de pessoal entre Universidades, conhecimento e aperfeiçoamento das línguas e culturas locais, aperfeiçoamento artístico e iniciativas no sentido de celebração e vivência da festa comum).
(continua)
António da Cunha Duarte Justo