ARGENTINA – 11
O GELO E O DESERTO
Em El Calafate ficámos hospedados no hotel resultante da ampliação da casa de campo de Genónimo Berberena onde se conservam alfaias, cavalos, bois e ovelhas como elemento decorativo da propriedade e para que os hóspedes possam imaginar como antigamente por ali se vivia. Para ficar com uma ideia mais aproximada, veja-se em http://www.kauyatun.com/index.php
As facetas mais inesperadas são a arquitectura quase toda em madeira, material que não existe localmente, o estilo alpino e nada andino e a existência da própria cidade como pólo turístico num local esquecido pelas divindades.
No Verão, a água do lago ronda os 10º centígrados e no Inverno quase todo ele se cobre de gelo. Mesmo assim, há um passeio marginal a que ninguém vai apanhar o vento gelado que por lá passa, vindo dos glaciares. Mas nas fotografias é bonito pelo que admito que tenha sido patrocinado por algum lobby fotográfico. Só pode ser algo desse género. Não nos demos ao trabalho de fotografar.
A centena de pequenos hotéis enche-se com visitantes dos glaciares Perito Moreno e Upsala que ficam a 80 quilómetros de distância. E o
que faz aqui o nome da cidade sueca? Muito simples: o primeiro levantamento desse glaciar foi feito por equipas da Universidade de Upsala no início do séc. XX e, vai daí, os argentinos, agradecidos, assim chamaram ao glaciar.
Visitámos apenas o Perito Moreno pois ao outro só se chega de barco. Nos primeiros 40 quilómetros percorremos a estepe patagónica mas nos restantes, já a subir os contrafortes andinos, começamos a ver árvores. Com o glaciar bem à nossa frente e quase a podermos tocar-lhe, percorremos as escadarias na encosta fronteira a distância considerada segura (???) de qualquer derrocada.
Quando o glaciar foi sobrevoado por um condor majestático, bem procurei a máquina fotográfica que afinal estava com a minha mulher no restaurante lá em cima do penhasco. Muitos foram os turistas que fizeram fotografias da maravilhosa cena mas eu...
A parede de gelo com mais de 40 metros de altura toca a encosta em que nos encontramos e a isso lhe chamam o ponto de ruptura entre os dois ramos em que o glaciar se divide derretendo-se para dois braços do Lago Argentino. Diz-se que periodicamente esse ponto de ruptura se rompe mesmo provocando mega derrocadas. A última ocorreu há uma dúzia de anos e provocou uma subida repentina do nível da água no braço direito do lago da ordem dos 20 metros... e nós fomos para lá navegar num katamaran.
Enfim, os deuses andariam por lá, foram benignos, tudo correu em conformidade com a salvaguarda dos nossos interesses e lá
deixámos aquela paisagem imponente a quebrar-se lentamente ao som de grandes estampidos e truões de canhão.
Feita a «festa» da visita ao glaciar, pouco ou nada mais haveria a fazer em El Calafate. Só mais uma passagem pela rua central daquela obra de Gerónimo Berberena e lá vamos a caminho do aeroporto para mais um voo de hora e meia até Uchuaia.
Até logo!
(continua)
Henrique Salles da Fonseca