ARGENTINA – 6
ATÉ HOJE!
Foi num dramático contexto económico que se realizaram eleições presidenciais em Maio de 1989 e, como seria de esperar, a vitória coube ao candidato da oposição, o peronista Carlos Menem, com 51% dos votos. Só a magnitude do caos económico-social justificou a vitória da oposição que, ironia das ironias, era a herdeira da linha que levara a Argentina à bancarrota uns anos antes. Mas, contudo, pela primeira vez na história da Argentina realizava-se uma sucessão entre dois mandatários civis constitucionais de diferentes partidos políticos.
Menem governou a Argentina de 1989 a 1999 recebendo o país mergulhado no caos económico e inflacionário. Durante o seu primeiro
mandato, Menem procurou estabilizar a situação inflacionária do país. Assim, avançou com a chamada Lei de Convertibilidade, igualando o valor do Peso ao do Dólar americano, o que provocou uma catástrofe económica por completa inaptidão ao novo valor atribuído à moeda nacional. Mas também privatizou empresas, abriu o mercado e firmou o Tratado de Assunção, que deu origem ao MERCOSUL. Na sequência da sobrevalorização artificial do peso, o segundo mandato de Menem caracterizou-se pelo aumento do desemprego, da pobreza e do trabalho ilegal com a dívida externa a aumentar quase 82 biliões de Dólares. No final de 1998, a Corte Suprema decidiu que Menem não se podia candidatar a um terceiro mandato consecutivo e, entretanto, iniciara-se uma recessão de quatro anos que se tornaria a mais longa e destrutiva da história argentina. Estes problemas continuaram em crescendo até 2001, o que provocou a resignação de Fernando de la Rua, advogado e membro da União Cívica Radical, que ganhara as eleições dois anos antes.
À crise económica junta-se então a crise política e há quem seja nomeado provisoriamente para assumir a presidência e lá fique apenas alguns dias (cinco Presidentes em apenas 15 dias), um dos quais anunciou urbi et orbi a suspensão de pagamentos da dívida externa. Para ornamentar o cenário, os distúrbios de rua a transferirem-se para dentro do próprio Congresso Nacional com zaragatas vergonhosas redundando em incêndios, vidros partidos e mobiliário espatifado.
Até que é finalmente nomeado um peronista e a calma regressa. Coincidências...
Eduardo Duhalde foi o quinto Presidente provisório e ficou no cargo até Maio de 2003, ou seja, durante um pouco mais de dois anos. Promoveu um programa de assistência aos desvalidos pela débâcle e – fundamental – desvalorizou a moeda.
Malabarismos circunstanciais à parte, as eleições foram então ganhas pelo seu correligionário Nestor Kirchner.
Nova desvalorização e eis que, contra todas as expectativas, se dá início a uma política de equilíbrio orçamental. O PIB voltou a crescer e a vida política estabilizou.
E a Nestor seguiu-se a Cristina que lá está.
Eis a carga histórica que me acompanhou nas deambulações por Buenos Aires e arredores. Também me acompanhou um Peso que comprei ao câmbio de 5,4 relativamente ao Euro.
A ser verdade o que li num jornal «fueguino» (natural da Terra do Fogo – como se dirá em português?), em Janeiro de 2012, o saldo da balança comercial argentina terá sido positivo em 550 milhões de Dólares, o que me pareceu muito bom. Perante as hesitações do gerente do hotel em que me hospedei em Uchuaia, acho melhor repetir: a ser verdade...
Agora, sim, considero-me em condições de contar o que por lá vi.
(continua)