ARGENTINA – 5
A REVOLUÇÃO LIBERTADORA
É altura de meditarmos sobre como foi possível levar à bancarrota um país que depois da segunda guerra mundial era credor das potências vitoriosas. E de seguida se verá ainda mais que dará para nos espantar...
Exilado Perón no Paraguai e depois em Espanha, a vida continuou na Argentina como se pode imaginar: casa onde não há pão, todos ralham mas ninguém tem razão.
Revolução Libertadora, assim se auto-denominou a ditadura militar transitória que governou a Argentina após a deposição de Perón.
Fechado o Congresso Nacional e deposta a Corte Suprema, foi o Poder entregue ao general Lonardi que foi substituído pelo general Arumburu o qual, cerca de 2 anos depois, foi substituído por Frondizi, um advogado, que por sua vez acabou derrubado por um golpe militar em 1962. Este golpe foi seguido em 1966 por outro golpe militar cujos membros convidaram Perón a regressar ao país.
Regressado em 1973, ganhou as eleições presidenciais realizadas em 21 de Setembro desse ano com mais de 60% dos votos expressos. A mulher com quem entretanto casara em Madrid, Isabel Martínez de Perón, concorreu como Vice-Presidente e substituiu-o na morte
conforme prescrito pela Constituição.
Mas Isabel Perón esteve muito longe do que se deve esperar de quem exerce cargo tão importante e acabou derrubada em 1976 por... outro golpe militar.
Com a morte de Perón, o país ficara num completo caos com grupos extremistas a fazerem sequestros e assassinatos, levando a sociedade a um terror poucas vezes visto no país. Eis como surge o auto-denominado Processo de Reorganização Nacional, presidido pelo General Jorge Videla, que se caracterizou por acentuada repressão política.
Porém, justiça seja feita, a economia cresceu tornando-se mais competitiva e moderna havendo também um grande incremento nas obras públicas.
A Guerra das Malvinas derrubou estes militares e em 10 de Dezembro de 1983 a democracia regressou formalmente ao país no âmbito de um complexo processo de transição com reiteradas insurreições militares. Finalmente em 1989, pela primeira vez na história argentina, um Presidente de um Partido entregou o Poder a um Presidente de outro Partido. A situação repetiu-se em 1999 mostrando uma notável consolidação democrática.
Contudo, os governos eleitos mostraram-se menos capazes na resolução dos problemas económicos: a pobreza, que era de 5% em 1974, subiu para 25% em 1983, atingindo o pico de 56% em 2002; o desemprego, que era de 6% em 1975 e 18% em 1995, chegou aos espantosos 31% em 2002.
Ao governo de Raul Alfonsín (1983-1989) cumpriu a difícil transição para a democracia e na área económica há que recordar que iniciou as suas funções no momento em que se produzia uma grande crise de dívida externa: durante o governo militar a dívida externa havia crescido de 7 biliões de dólares em 1976 para 66 biliões em 1983. Mais: grande parte da capacidade produtiva, sobretudo industrial, havia colapsado. Perante tal cenário, Alfonsín decidiu aplicar em 1985 um plano económico especial, o Plano Austral, que ele mesmo qualificou como "economia de guerra".
O Plano Austral conseguiu conter a inflação durante algum tempo, mas não resolveu os problemas económicos estruturais. O congelamento dos salários e a identificação dos sindicatos com a oposição peronista levaram a um grande impasse traduzido em 13 greves gerais. Os graves problemas económicos traduziam-se numa taxa de inflação de 343% em 1988 e o início de um processo hiper-inflacionário a partir de Fevereiro de 1989 superior a 3000% ao ano, o que fez aumentar a pobreza até um nível histórico: 47,3% em Outubro de 1989 na Grande Buenos Aires.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca