ARGENTINA - 1
MISTÉRIOS…
Foi por San Lucar de Barrameda que também nós largámos a Península. Mas Fernão de Magalhães foi até lá aos «saltinhos» e nós fizemo-lo duma vezada só num voo diurno de mais de 13 horas. Bolas! A outra diferença está em que a viagem dele ficou na História enquanto a nossa é apenas uma história. Para nosso conforto, há mais uma diferença: nós regressámos a casa.
Parafraseando António Pigaffeta, c'era una volta...
... e eis-me chegado a uma terra que sempre me inspirou grandes enigmas mas também enormes fascínios. Confundindo, direi que a Argentina sempre me inspirou fascínios enigmáticos. E aqui estava eu para tentar desvendar os enigmas e, se possível, confirmar os fascínios.
Como tinha sido possível um país tão grande e rico ter eleito duas vezes pelas urnas democráticas um ditador que pelas duas vezes tudo deitou a perder? Como era possível uma Nação culturalmente tão pródiga deixar-se atropelar por violadores que ficaram nas páginas negras da História? Como era possível que do nada das pampas tivessem surgido campeões olímpicos? Como é que uma «terra de sonho» produzira o desespero do tango? Como é que uma mulher tão feia quanto Carlota Joaquina pudera imaginar ser rainha duma terra com mulheres tão bonitas?
Mistérios...
Seguindo o critério decrescente da dimensão dos meus enigmas, começo pelo tango, essa desesperança nascida na terra do sonho.
Convenhamos que se os peruanos descendem dos incas e os mexicanos dos aztecas, os argentinos descendem dos barcos. Sim, a Argentina é sobretudo uma Nação composta por europeus que se fartaram das quizílias no Velho Continente e que decidiram fazer vida nova noutras bandas. Chegaram ali como eventualmente poderiam ter chegado a outro local qualquer desde que fosse longe da origem que lhes fora madrasta. Chegaram nos barcos de que hoje se dizem descendentes...
(continua)