A ESSÊNCIA DO PROGRESSO -4
Fica por saber o que sucederia se medíssemos o analfabetismo científico, ou seja, se fizéssemos a medição da ignorância relativa aos
conhecimentos mais básicos da Ciência e da Tecnologia de que qualquer pessoa necessita para sobreviver razoavelmente numa sociedade moderna.
Curiosamente, o ensino de Ciências no 1º e no 2º ciclos assenta nos princípios básicos da biologia, da física, da química, etc., – o que corresponde a conhecimentos bem distantes do quotidiano das pessoas – esquecendo a explicação de outras coisas de bem maior relevância tais como o motor, a lâmpada, a televisão, a Sida, o rolamento de esferas...
Resulta assim uma grande desmotivação da juventude para aquilo que lhe querem ensinar numa escola que nada tem a ver com a realidade da vida. Eis como surge aquele preocupante abandono escolar e, na população escolar que persiste, um enorme insucesso.
Temos que colocar a questão: - Quem está mal? A população escolar ou a Escola? A resposta tem que se inspirar na anedota sobre os tempos soviéticos: O povo não concorda com o Soviete Supremo. Temos que mudar de povo!
O modelo de ensino está claramente desajustado relativamente à motivação geral da juventude e essa deve ser razão suficiente para uma reflexão por parte de todos os profissionais do ensino.
O aparelho técnico educativo oficial tem que ser confrontado com a realidade do País pois está a formar ou a deformar a juventude a seu bel-prazer sem que se lhe exijam grandes responsabilidades e, pelas taxas de abandono conhecidas, pode-se dizer que está a esbanjar gerações que no futuro passarão por analfabetas e incompetentes.
Estamos a tratar do ensino obrigatório, de cultura geral básica, não de estudos avançados nem sequer de nível médio. Os verdadeiros cientistas formam-se noutros níveis muito mais elevados. Mas o sistema escolar em vigor quer fazer cientistas que pensem do geral para o particular logo à saída do berço e o resultado é um falhanço clamoroso. Poderá ser menos ambicioso em termos intelectuais ensinar do
particular para o geral mas tudo nos leva a admitir que a motivação dos jovens seria bem maior do que actualmente.
Este tipo de questões é da maior relevância para o tecido empresarial que trabalha com gente que tem sido mal preparada para as necessidades da vida moderna, nomeadamente para lidar com tecnologias de ponta. A via profissionalizante continua sem grande expressão em Portugal. Todos queremos ser Doutores e Engenheiros e ninguém quer ser Técnico intermédio. Se o problema está no título, façamos como os americanos que aos Mecânicos e Electricistas chamam Engenheiros e aos Engenheiros tratam pelo nome.
Segundo o Eurostat (http://epp.eurostat.ec.europa.eu/), na população entre os 25 e os 64 anos, que em 2006 tinham o ensino secundário ou mais, em %:
Republica Checa - 90.3
Eslováquia - 88.8
Estónia - 88.5
Noruega - 88,4
Lituânia - 88.3
Polónia - 85.8
Letónia - 84.5
Suécia - 84.1
Alemanha - 83.3
Dinamarca - 81.6
Eslovénia - 81.6
Áustria - 80.3
Finlândia - 79.6
Hungria - 78.1
Bulgária - 75.5
Roménia - 74.2
Reino Unido - 72.6
Holanda - 72.4
EU (27 países) - 70.0
EU (25 países) - 69.7
Chipre - 69.5
Bélgica - 66.9
França - 66.9
EU (15 países) - 66.7
Irlanda - 66.2
Luxemburgo - 65.5
Euro área - 64.9
Grécia - 59.0
Itália - 51.3
Espanha - 49.4
Portugal - 27.6
Malta - 26.5
(*)
E que sucede nesta perspectiva? O cenário não é brilhante e teremos ainda muito que fazer antes que possamos começar a estar satisfeitos com os progressos que vamos conseguindo.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca