A ESSÊNCIA DO PROGRESSO -3
(*)
Uma das pechas mais graves que se nos apresenta é a do analfabetismo. Analfabeto estatístico é o maior de 10 anos de idade que não sabe ler nem escrever. Em 1910 essa taxa rondava os 90%, em 1974 era de 25% e o CENSUS 2011 ainda revelou uns miseráveis 9%.
Se nos espantamos hoje com esta história, devemos perguntar-nos também se estamos a tratar de uma realidade com interesse para os níveis de vida actuais ou se estamos a falar de arqueologia social. O que fazermos? Esquecer os analfabetos e partir para outra...? Não será essa uma forma de encolher ainda mais o País? Então estamos a querer aumentar e acabamos por encolher? Que fazer?
Continuo a crer que é necessário continuar os esforços de alfabetização de adultos mas não me restam dúvidas de que esse esforço não é minimamente suficiente para alcançarmos os nossos objectivos. Necessário mas não suficiente. Porquê? Porque estamos cada vez mais a deparar com jovens – quiçá universitários – oriundos de ambientes analfabetos e esse é um gap que tem que ser sistematicamente reduzido. Claro que os anciãos constituem hoje aquilo que podemos considerar uma geração perdida para o
desenvolvimento moderno mas não podemos esquecer que sempre constituem o enquadramento social (e de referência familiar) a muitos jovens e outros já menos jovens mas em plena idade produtiva.
Como seres pensantes que divagamos sobre os temas do desenvolvimento, não temos o direito de esquecer esses mais velhos e impreparados. Não podemos deixar que em Portugal o combate ao analfabetismo seja liderado pelas agências funerárias.
E que se passa com os escolarizados?
Passa-se que temos a mais baixa taxa de população adulta com formação superior, incluindo Sacerdotes e Oficiais das Forças Armadas e de Segurança. E por quê? Uma das razões que podemos imediatamente apontar tem a ver com a enorme taxa de abandono escolar
precoce de que em 2010 ainda padecíamos ao nível dos 30%, o dobro da UE!
Daqui resulta uma elevadíssima percentagem de portugueses que apenas dispõem de um baixo nível de instrução (9º ano da escolaridade). A informação mais recente que consegui localizar é a do Eurostat, refere-se a 2008 e ao grupo etário dos 15 aos
64 anos:
Suécia = 24,6 %
Dinamarca = 31,4
Alemanha = 22,3
Irlanda = 32,3
PORTUGAL = 70,6
Seguindo sempre a mesma fonte e visto de outra perspectiva (agora os dados referem-se a 2010), no grupo etário dos 20-24 anos, eis os que concluíram pelo menos o secundário superior (nosso 12º ano):
Suécia = 85,9 %
Dinamarca = 68,3
Alemanha = 74,4
Irlanda = 88
PORTUGAL = 58,7
(continua)
Henrique Salles da Fonseca
