A ESSÊNCIA DO PROGRESSO -1
A Suiça e o Afeganistão são países sem acesso directo ao mar mas é fácil vermos nos portos portugueses navios com bandeira suíça; a nenhum dos dois países é reconhecida vocação agrícola mas a Suiça tem o queijo “Tigre”; é sabido que o subsolo suíço não tem riquezas minerais mas creio que ninguém sabe ainda o que há no subsolo afegão.
É para mim evidente que não são as riquezas naturais que colocam o Japão em lugar de destaque no leque das locomotivas económicas mundiais; é para mim também evidente que Angola continua a ser um país a necessitar de muita ajuda internacional apesar das enormes virtualidades naturais de que dispõe (ou talvez mesmo por causa disso).
Então, o que distingue os países?
A resposta só pode ser uma: as pessoas que estão dentro de cada um.
E em Portugal, o que sucede?
É sabido que temos recursos naturais relativamente escassos e, mesmo assim, os que temos ou tivemos são ou foram maioritariamente explorados por estrangeiros. Refiro-me às riquezas mineiras que foram exploradas até à exaustão por ingleses (Minas de S. Domingos, p. ex.); refiro-me às pescas desbragadamente exploradas pelos espanhóis que amuam e fazem greves de fome quando raramente são presos pela nossa Armada.
E se essas riquezas interessam a estrangeiros, por que não interessam a portugueses? Há respostas para o falso enigma: porque é muito mais cómodo ficar à espera da pensão que o Estado paga com base nalgum pretexto e deixar-se ficar a jogar às cartas no jardim público; porque o Estado impõe muitas condições para licenciar qualquer iniciativa; porque o dinheiro está caro; porque «eles» é que têm a obrigação de fazer...
Em suma, é muito mais agradável uma «licenciatura» tirada numa praia (de preferência ao Domingo) do que numa Universidade.
Então, se não temos abundantes recursos naturais, resta que o desenvolvimento só poderá assentar na valorização humana. Creio que tudo quanto se desvie deste processo se traduzirá numa perda de tempo para que alcancemos o verdadeiro desenvolvimento sustentado; creio que o sistema económico baseado na utilização de mão-de-obra barata e produção maciça de bens de relativamente baixo valor acrescentado já não é aceitável em Portugal, estando hoje vocacionado para os chamados Países do Terceiro Mundo.
Há novas políticas públicas de incentivo às empresas de base tecnológica; há hoje uma forte preocupação de desenvolver o valor acrescentado pelas empresas portuguesas. A orientação que vem sendo seguida aponta no desenvolvimento da Investigação Aplicada sem desprimor, contudo, para a Ciência pura que, afinal, não actua com rapidez na valorização do nosso PIB.
Conseguirão estas políticas alcançar os objectivos que se propõem? Eis a questão que sempre nos devemos colocar.
(continua)
Henrique Salles da Fonseca