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A bem da Nação

GOESAS DE ALTO COTURNO (séculos XVIII - XXI)

 

 

Na saga plurissecular da História de Goa é gratificante verificar que algumas mulheres goesas refulgem como astros de primeira grandeza pela sua invulgar inteligência e pela sua primazia de actuação nos restritos domínios de actividade humana adoptada. 

Sem dúvida é curial, e até mesmo imperioso, que essas distintas goesas sejam recordadas como exemplos dignos de imitação por jovens do seu sexo, quer da actualidade quer dos futuros tempos.

Com este breve intróito, tentarei evocar uma dezena de goesas surgidas nos últimos 200 anos, arrumando-as na ordem cronológica do seu conhecido nascimento em Goa ou algures em país da diáspora goesa, onde estivessem a trabalhar seus progenitores. Eis essas estrelas goesas:



1. ROSA MARIA DE SOUSA (c.1735). – Nascida em Ucassaim-Bardez, como filha única dos seus ricos pais, casada com Caetano Vitorino de Faria, de Colvale, foi mãe de José Custódio de Faria (1756/1819), padre, doutorado em Roma (1780), que se notabilizou como o criador do hipnotismo científico em Paris e foi popularmente conhecido como Abade Faria. O casal Faria viveu uns 15 anos de desinteligências caseiras e resolveu separar-se sub conditione de ela se fazer freira no Convento de Santa Mónica da Cidade de Goa (onde foi Prioresa) e de ele se fazer padre (depois, doutor em Roma).

 

2. EUFRÓSINA PAIS DE NORONHA (c.1795). - Natural de Ucassaim e mãe do Prelado de Moçambique e Arcediago de Goa, D. Isidoro Caetano do Rosário e Noronha (1817/77), distinguiu-se na imprensa lisboeta com dois artigos (cf. NAÇÃO, Nº 3186/1859 e Nº 3952 de data posterior).

 

3. J. JÚLIA RODRIGUES (1840/1926). - Nascida em Britona, Bardez, casada com o médico e botânico José Camilo Lisboa (1823/97), foi sua secretária-ajudante nas pesquisas botânicas. Teve o ensejo de estudar as plantas e divulgá-las à Sociedade de Ciências Naturais de Bombaim, a qual atribuiu seu nome a uma das plantas por ela estudadas. Júlia Rodrigues Lisboa, concorreu com os seus espécimes de plantas às Exposições de Horticultura de Bombaim, Poona, etc. da sua época. Foi uma dama de grande saber e sobrinha do Lente de Coimbra Prof. Dr. Venâncio Raimundo Rodrigues, Deputado por Coimbra e Vereador e Presidente da C. M. de Coimbra em vários biénios. Salvo prova em contrário, sou a supor que ela foi a pioneira das mulheres botânicas de todas as épocas.

 

4. ANA IDALINA DA SILVA BOTELHO (1859/1946). - Foi natural de Pangim, casada com o advogado Filipe José da Gama Botelho e irmã mais velha do médico, farmacêutico e Chefe dos Serviços de Saúde da Índia, o Coronel Francisco António Wolfango da Silva (1864/1947). Primorosamente educada em Bombaim, Ana Idalina, com 14 anos, fez o antigo Liceu, por cadeiras singulares, em 1873, feito nunca mais registado em Goa.

 

5. FRIDA EMÍLIA FREITAS PAI (s.d.). - Filha de pais goeses de Pomburpá, Bardez, fez-se médica e ingressou nos Serviços de Saúde do Exército Indiano, com a singularidade de ser uma das três primeiras mulheres a servir nas Forças Armadas da Índia e a primeira mulher a ascender ao posto de Coronel. Seu nome estava proposto para o cargo de Brigadeiro, logo que houvesse uma vaga, o que não sucedeu, e ela foi apanhada por limite de idade. Aposentou-se como Coronel e Director Assistente dos Serviços Médicos em Jabalpur, Estado de Bihar-Orissa.

 

6. BÁRBARA LOBO GHOSH (s.d.). - Natural de Saligão, Bardez, formada médica na Índia, logo ingressou nos Serviços Médicos da Marinha Indiana, atingindo depois o posto de Comodoro Naval.

 

7. LATA MANGUEXCAR (c.1930). - Nascida em Manguexa e filha do grande actor teatral e famoso cantor Dinanata Ganexa Manguexcar, notabilizou-se como cantora de +30.000 canções nos palcos do teatro e do cinema indianos, cantando em concani, hindustano e marata. Arrebatava as multidões com a doçura e o timbre de sua inimitável e melodiosa voz. Era irmã de Aisha, Mina e Usha, três igualmente famosas e encantadoras cantoras indianas de vulto. Lata Manguexcar foi uma grande obreira social e benemérita de instituições de amparo aos doentes, idosos e carenciados.

 

8. VINITA VALÉRIA MENDANHA (s.d.). - Filha de pais goeses, oriundos de Salvador do Mundo, Bardez, formou-se médica na Índia e ingressou na Força Aérea Indiana, onde atingiu o posto de Wing Commander, continuando no exercício de plena actividade. É casada com o Comodoro de Ar, Gil Gomes, de Ucassaim, Bardez.

 

 9. HELGA DO ROSÁRIO GOMES (s.d.). - Natural da África Oriental Inglesa, onde mourejavam seus pais, formou-se B.Sc. (Bacharel em Ciências Biológicas). Depois fez o Mestrado e o Ph.D. em Oceanografia pela Universidade de Goa. Segundo um relato da imprensa de Goa, a Dra. Helga do R. Gomes partiu para os EUA a fim de se especializar e tomar parte activa numa expedição científica à Antárctica. É casada com o DR. Joaquim Goes, de Cortalim-Salcete/Mormugão, um dos cientistas do U.S. Bigelow Laboratory, Maine-USA e investigador dos efeitos da radiação solar (Raios-X) no sistema oceânico. É filha de Jacinto Serafino Gomes, de Vernã-Salcete/Mormugão, (primo co-irmão da mãe do signatário), e de Maria Aida Margarida Afonso da Rocha, de Quítula-Aldonã, Bardez.

 

 10. MARIA VIRGÍNIA BRÁS GOMES (1951). - Natural de Benaulim-Salcete e filha de pais goeses, após estudos em português, formou-se B.A. (Bacharel em Letras). Depois fez estudos em Francês na Universidade de Toulouse e um intenso treino no campo de assistência social por 4 meses na Universidade de Michigan Ocidental (EUA). É assessora do Ministério de Trabalho e de Assuntos Sociais, em Lisboa, o que a leva a tomar parte em vários convénios, conferências e reuniões de nível internacional, como participante e/ou representante do Governo Português. É autora de alguns folhetos de sua especialidade. Alia à erudição pessoal, a virtude de activa cantora do Grupo folclórico goês EKVAT, de Lisboa e uma humildade nas suas relações humanas.  

   

Há certamente muitas outras mulheres goesas de igual nota, mas com a minha provecta idade e com outros assuntos de vulto, que me ocupam a pena, dou por terminado este breve apontamento histórico-sociológico.

 

Alcobaça, 16 - 08- 2011

 

 DOMINGOS JOSÉ SOARES REBELO

(soares.rebelo@hotmail.com)

 

 

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