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A bem da Nação

FABULÂNDIA

 

 

"Os nossos netos vão ouvir uma boa história"

 

Richard Adams,

Watership Down, 1972 (*)

 

Proémio

 

Segui o conselho que me foi dado por pura brincadeira,

Para de Animais falar, à minha irónica maneira.

Chamei o meu anjo das metáforas, musas da minha eleição,

Para evitar provocar outra indigestão de psitacídeos,

E, por me preocupar, em geral, qualquer indigestão.

Também, por não sofrer de doentios distúrbios verborreicos,

Prometo não ser demasiado exaustivo e longo,

Para não atropelar, nem confundir as minhas palavras nos conceitos.

Rir das adversidades é aceite como prova de maturidade intelectual,

E é isto a razão de aceitar tão honroso e oportuno convite.

Por isso, aqui vou direito ao zoológico etéreo, espacial,

Munido das contestadas teorias de Darwin

E encontrar-me com fabulistas como La Fontaine, Esopo e Phaedrus,

Para combater o stress e com estes, sobre animais aprender,

Visitando capoeiras, aviários, coelheiras e outros salões muito in,

Sem esquecer aquários, cheios de chernes e tubarões,

Deste zoológico, sedeado na terráquea humanidade.

Por cá, descalços se caminha, sem se ver, qual rei, que vão nus,

Mas, crendo-se superiores, na concertada arte de bem dizer,

Apesar de a superioridade, ser apenas um simples ditongo.

Nesta raça que povoa o meu imaginário de duvidosa sanidade,

Pululam espécies curiosas, desde o homo intelectus ab incunabulis,

Até aos recentes homo oryctolagus cuniculos da família europeia.

Viveremos uma tempestiva, fantástica e original epopeia,

Que tem de tudo um pouco e muitas são as suspeitas

De estarmos a ser levados na conversa das Hymenopteras,

Trabalhadoras da família das formicidae bancárias,

Nós as grandes e conhecidas alimárias,

Do grupo dos asininos, entre os quais os burros, bestas e jumentos,

Que suportamos algumas duvidosas e ininteligíveis receitas

De sofrimentos mil e variados condimentos.

Futuramente, falarei de histórias do coelhinho branquinho

E da formiga rabiga, (**)

Mas, tal como afirmou a escritora Alice Vieira:

"Publicar um livro, por si só, não faz de ninguém um escritor",

Também eu, por escrever fabulando, não serei fabulista,

Jogando com as palavras, em jeito de seriíssima brincadeira,

É arriscado, por isso, perdoem alguma burrice, por favor.

Avançarei por este território inóspito, sem fadiga,

Devagarinho, de mansinho…

Comecemos, então, esta fabulística abordagem,

A imitar o documentário da BBC: "Vida Selvagem"…

 

Luís Santiago

 

(*) Conto alegórico sobre a luta pela sobrevivência de um grupo de coelhos selvagens que, perante aquilo que julgam ser uma ameaça, abandonam o local onde viviam, para construírem, noutro local, uma sociedade mais segura, onde possam viver em paz.

 

(**) "O Coelhinho Branquinho e a Formiga Rabiga", De Alice Vieira, Editorial Caminho, 1994

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