“A BEM DA NAÇÃO” – 4
É com base em ideais que cada um de nós constrói a sua própria utopia, aquela que sonhamos vir a testemunhar no futuro. Eis como hoje, sem Sebastião que nos valha, desenhamos a nossa História do Futuro.
A propósito do futuro, lembro-me do passado e duma conversa que Paul Ricoeur teve com François Azouvi e Marc de Launay, eles também filósofos, em que falaram sobre história, ética, moral e teologia debatendo longamente a evolução do pensamento e a acumulação de conceitos. A frase que retive é: O trabalho intenso nas interpretações, sucessivamente divergentes e cumulativas, prossegue através dos séculos e até nós[1]. E quando chegou a altura de extraírem conclusões, uma houve que, relativa à teologia, mereceu a minha especial atenção. Não é uma conclusão afirmativa mas sim uma pergunta que serve de reflexão para o resto que falta à humanidade percorrer na História: com tantos milénios de interpretação da palavra divina, o que resta hoje de Deus?
Resta certamente o halo do momento fundacional traduzido nas três memórias (individual, social, futura), ou sejam, a «minhidade» (como António Hall traduziu), influenciada pelas «vossidades», na esperança de construirmos a «nossidade», máximo factor comum das memórias, das consciências e das utopias.
Quase para acabar, refiro uma frase que recordei há pouco com Hannah Arendt: potestas in populo, auctoritas in Senatu[2]. Eis por que no “A bem da Nação“ nos consideramos do lado do Poder; a Autoridade que se cuide!
E, quase para concluir, uma nota sobre a inequívoca opção pela Democracia em cujo seio queremos que sejam tomadas as decisões resultantes da «nossidade» fazendo prevalecer a racionalidade sobre o capricho, tecendo os laços horizontais típicos da nossa igualdade (religiosa, perante o Pai; profana, perante as «Tábuas da Lei»). E isto porque a hierarquia de comando e de autoridade ou resulta da escolha universal entre as diferentes propostas de bem-comum postas a sufrágio ou conta com o nosso NÃO!
E pronto, eis o “A bem da Nação”, ou seja, eis-me, tentando dar voz à utopia.
Utopia que passa pelo fim das duas maiores pechas lusitanas: a inveja e a mesquinhez. Conseguiremos? Não sei. A única coisa que garanto é a nossa perseverança.
Obrigado pela atenção e continuemos...
Lisboa, Dezembro de 2011
Henrique Salles da Fonseca