A nova equipa na Agricultura - 9
Com as restrições orçamentais do momento, é provável que o Plano Intensivo de Investigação Agronómica e de Extensão Rural, que considero necessário para transformar a nossa agricultura, tenha de ser feito com "a prata da casa", ou seja, com os restos de
competência que ainda existem no Ministério da Agricultura, depois dos anos dum verdadeiro plano intensivo de destruição, que repetidamente tenho denunciado.
Dada a situação de descalabro em que foram postas as finanças portuguesas, é pouco provável que venha a ser possível que o orçamento dê mais verbas para o incremento da Investigação e da Extensão. Talvez seja possível recorrer a algumas fontes de financiamento externas, como a NATO, algumas fundações, etc. A União Europeia (UE), através da sua Política Agrícola Comum (PAC),
depois dum excelente começo, ainda apenas com seis países e o nome de CEE, graças à acção do ilustre agrónomo holandês Sicco Mansholt e onde uma parte das verbas era dedicada à Investigação Agronómica, começou, a certa altura, a cometer uma série de graves e elementares erros de economia. Um deles foi reduzir progressivamente as verbas destinadas à Investigação Agronómica, com grande prejuízo para a economia da UE. Era bom que a Comissão Europeia compreendesse o que isso representa para a economia de Portugal e da UE, invertesse a situação e destinasse uma fracção da PAC, do que gasta em subsídios, para a Investigação, que renderia muito mais.
Até essa alteração, será de tentar que o Comissariado para a Ciência, que tem devotado pouco dinheiro para a Investigação Agronómica, possa ser fonte de financiamento para o nosso Plano.
Em matéria de pessoal, procurar entre os técnicos superiores os que tenham aptidão para a investigação, para passarem a integrar as equipas do Plano. O mesmo se deve fazer em relação a pessoal auxiliar que, mesmo não tendo qualificações específicas para esse tipo de
trabalho, em breve fará a sua formação no local, como em tempos antigos sempre sucedeu. Quando, há muitos anos, assumi a chefia do Laboratório de Citogenética da Estação de Melhoramento de Plantas, os auxiliares então contratados não tinham qualquer experiência daquele tipo de trabalhos. Algum tempo depois eram já peritos, não só nos trabalhos de campo mas também no laboratório, na execução de preparações para o estudo de cromossomas, etc. Se um investigador puder dispor de suficiente número de auxiliares, o seu trabalho renderá certamente mais.
O Plano será dividido em duas secções, uma para a Investigação Agronómica e outra para a Extensão Rural. A da Investigação Agronómica será composta por um certo número de Programas, cada um com um coordenador, que definirá as principais matérias e
aglutinará, a nível nacional, os Projectos que estiverem em curso.
Em cada Programa será dada prioridade, tanto quanto possível, aos projectos que possam dar resultados a curto prazo. Nas diferentes culturas e pelo facto de muitos produtos que importamos serem de espécies anuais, é de esperar que, especialmente com boa
actividade da Extensão, se possam colher resultados a curto prazo, mesmo dentro da legislatura. Ao contrário de ilustres economistas, que têm declarado que a única forma de melhorar a balança comercial (e os seus efeitos no défice orçamental) é exportando mais, eu sei que, se não tivermos de importar produtos que aqui temos obrigação de saber produzir, temos o mesmo efeito e é mais simples porque só depende de nós.
Miguel Mota
Publicado no Linhas de Elvas de 7 de Julho de 2011 a 15 de Setembro de 2011