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A bem da Nação

Um plano integrado de transportes...

... agora ou nunca?

 

(*)

 

Na verdade alguma vez tivemos em Portugal um plano integrado de transportes?

 

E o que deve ser um plano assim denominado?

 

Deverá certamente incluir todos os meios de transporte ao nosso dispor: rodoviários, ferroviários, marítimos e fluviais, aéreos e, porque não, o mais natural que é andar a pé, e permitir a movimentação de pessoas e bens dentro do nosso território e nas ligações com o resto do mundo.

 

Tendo sempre presente que o custo e a qualidade do transporte é determinante para a competitividade quer dos trabalhadores e dos serviços aos turistas quer dos bens que exportamos e que consumimos.

 

Mas ainda falta mais uma condição essencial para e eficiência de um sistema integrado de transportes que é a coordenação entre estes e o ordenamento do território de forma a diminuir os custos de investimento e de operação, permitindo efetuar, não só as ligações já existentes da forma correta, mas também contribuir para reduzir ou até anular muitas das disparidades verificadas entre as regiões do País quanto a desenvolvimento e rendimentos.

 

Ora olhando para o nosso passado antigo e recente, desde o ponto de vista de transportes, verificamos a existência de um espetáculo a nível quase deplorável, a saber:

-destruição do transporte fluvial (iniciada no século XIX);

-destruição da marinha Mercante ou de Comércio (finalizada entre 1985 e 1995);

-destruição parcial das pescas;

-a forma como foram construídos os “Metros” de Lisboa, Porto, etc;

-a tolice que foi o projeto TGV, com percursos pela Ota e pelo vale do Trancão, etc., e travessias do Tejo disparatadas e não realizar linhas em bitola europeia para nos ligar a Espanha principalmente para mercadorias;

-nunca se terem realizado os PDMs prevendo as movimentações das pessoas e dos bens se forma a se estabelecerem previamente as linhas de ligação preferencial em transportes públicos eficientes, porque dá a ideia de que a orientação básica destes planos tem sido fomentar o lucro rápido da especulação imobiliária;

-atraso no desenvolvimento do turismo quer no valor do produto a oferecer quer na sua capacidade exportadora;

-terem sido construídos muitos km de estradas inúteis ou pelos menos excessivamente caras bem como milhares de habitações sem mercado e por preços excessivos como se constata agora com as dificuldades no seu pagamento.

 

E embora seja duro em plena crise, em que muitos portugueses sofrem as consequências das enormes dificuldades financeira e económicas atuais, apontar estes factos negativos, isto tem que ser feito porque só conseguimos corrigir os erros de que tomamos consciência e portanto, se temos que começar já a adotar medidas para minimizar os efeito destas dificuldades, também é igualmente essencial não continuarmos a repetir as tolices e os desmandos que foram a origem mais ou menos remota ou recente da situação atual.

 

E convém ter presente a afirmação de que uma consciência tranquila é quase sempre o resultado de uma memória fraca.

 

Mas haja esperança de que melhores dias virão, pois uma vez mais há auxílio a vir de fora, como é tradição na nossa História, uma vez que só com a prata da casa, estávamos a caminho da ruína certa.

 

É claro que tendo em conta o enorme emaranhado de interesses criados em toda a vida económica, corporativa e política a mudança, que se deseja, vai ser difícil e demorada.

 

E entre todos os meios de transporte, aliás todos necessitando profundos melhoramentos, há um que merece uma palavra especial pois foi o mais influente na nossa evolução histórica e tem sido nos últimos trinta anos o mais desprezado do ponto de vista de realizações concretas e positivas, e não das declarações e outras manifestações palavrosas que embora interessantes só originam despesas e não criam riqueza que tanta falta nos faz.

 

Trata-se do transporte marítimo em particular e das atividades marítimas em geral, ou seja da Marinha Portuguesa  considerando esta como o  conjunto constituído pela Armada, pela Marinha Mercante ou de Comércio, pelas Pescas, pela Marinha de Recreio e pelas atividades a elas ligadas que ultimamente os recem-chegados a esta ribalta chamam de “cluster”, mas que na verdade já existia em Portugal há séculos.

 

Dada o carácter resumido deste texto apenas focaremos dois aspetos essenciais da Marinha:

 

A Marinha Mercante é determinante para a definição deste País ser central ou periférico conforme a tem ou não a tem, pois tal qualificação não é simplesmente geográfica mas na verdade depende das atividades dominantes que nele se processam: quando tivemos uma Marinha poderosa fomos um país centrado no mundo, quando a desprezámos, como aconteceu nestas últimas décadas, ficámos a ser um país periférico.

 

A Marinha de Recreio é tão essencial para melhorar a eficiência do nosso Turismo como é para desenvolver o interesse da população pelas atividades marítimas, pois sem uma população empenhada nelas, nunca poderemos aproveitar e defender as enormes riquezas à nossa disposição e evitar que aconteça o mesmo que aconteceu com o famigerado mapa cor de rosa, como tive ocasião de focar na Academia de Marinha em 1984, diga-se de passagem sem qualquer resultado prático, pois ninguém
prestou atenção a esta situação.

 

E continuamos a ver, com enorme preocupação, os responsáveis pela nossa segurança a não darem a importância devida quer à Marinha quer à participação activa da população nas atividades marítimas essenciais.

 

Lisboa, 23 de Setembro de 2011

 José Carlos Gonçalves Viana

 

Publicado na Revista de Marinha em Novembro/Dezembro de 2011

 

(*)http://www.google.pt/imgres?q=marinha%2Bmercante%2Bportuguesa&um=1&hl=pt-PT&biw=1024&bih=735&tbm=isch&tbnid=WegBz4h07-0-vM:&imgrefurl=http://portalo.wordpress.com/page/3/&docid=3BWnQ9apc67fUM&imgurl=http://www.shipwrecklog.com/log/wp-content/uploads/2011/06/Heinrich-Ehler.jpg&w=800&h=600&ei=-wHdTvHxNs_EtAa31J3QCw&zoom=1

 

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