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A bem da Nação

Goa, Damão e Diu - 1

 

O 15 de Agosto de 1955 no ex-Estado da Índia Portuguesa

A <História> que não foi contada

 




 
 
  

Os que viveram no dealbar dos anos 50 nas paradisíacas plagas portuguesas do Estado da índia, dos extensos palmares debruçados sobre as belas praias onde o mar é mais azul; dos esguios e resistentes coqueiros, cujo fruto serve em mil e uma aplicações, até para matar a sede; das altivas e verdejantes arequeiras, onde pequenos símios e dóceis esquilos se deleitam com as suas cabriolices; onde o manganês abunda e se extrai de inesgotáveis filões. Os que viverem nestas terras de encanto, onde brotaram nomes de vulto que deram novas luzes ao mundo, jamais podem olvidar o dia mais escaldante: modesto ensaio da invasão levada a cabo pelas forças indianas em 18 de Dezembro de 1961.

 

Depois da queda dos enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, paraísos das madeiras preciosas, em que o guarda policial Aniceto do Rosário, ao pretender vincar a soberania portuguesa, perdia tragicamente a vida, o espectro de nuvens negras pairava sobre os distritos de Goa, Damão e Diu.

 

Bandos numerosos de satyaghras – fanáticos hindus que (por vezes) não utilizam a violência – preparavam-se para tomar de assalto aqueles territórios, mas devido à falta de coesão do movimento satyaghray e à pronta intervenção das forças portuguesas de segurança, os seus intentos fracassaram, não obtendo o mesmo êxito de Dadrá e Nagar-Aveli.

 

Estávamos no ano de 1954 e no dia 15 de Agosto, data em que a União Indiana, comemorava o 7. ° aniversário da sua independência.

 

Rechaçado o primeiro impacto, voltava a «All lndia Radio», nas suas emissões destinadas ao então Estado da índia Portuguesa, a anunciar que uma invasão de maiores proporções estaria prestes a ser desencadeada.

 

Alertado por este sério aviso, o Governo da Metrópole mandava reforçar a parca guarnição militar. No mar, a vigiar as águas territoriais, apenas existia o aviso de 1.° classe «Afonso de Albuquerque», que acabou os seus dias encalhado na praia de Bambolim, aquando da invasão de 1961, depois de heróica resistência frente à formação naval indiana, onde perdia a vida o 1.° Grumete, José Manuel Rosário da Piedade, ficando gravemente ferido o Comandante Aragão.

 

A mobilização foi geral e desde a I Grande Guerra, que o rio Tejo não servia de cenário ao zarpar contínuo de barcos transportando contigentes militares, mas desta feita não com o destino aos campos da Flandres, mas a paragens que pela Constituição então vigente, constituíam o prolongamento de Portugal Continental.

 

A rota, pelo Canal Suez, encurtava o caminho até ao porto de Mormugão, ancoradouro natural e o mais favorável ao movimento de navios em toda a costa do Malabar, que se estende desde o Paquistão até à ponta meridional da União Indiana.

 

A viagem fazia-se em cerca de vinte dias, sob temperaturas elevadas com os transportes de tropas, superlotados, a não disporem de meios razoáveis para acomodarem os militares. Os beliches ou camaratas montados nos porões constituíam um sério problema visto que a partir de Port Said, no Egipto, até ao porto de destino com uma curta escala em Port Sudan, no Mar Vermelho, ou em Aden, no Yemen do Sul, os militares enfrentavam o calor tórrido próprio dessa zona do globo.

 

No porto de Aden, os navios reabasteciam-se de água salobra, com os batelões-aguadeiros a ostentarem a todo o seu comprimento o pomposo rótulo de pure water. A última etapa da viagem era a mais penosa, uma vez que os militares não estavam habituados ao líquido que lhes era dado a beber, que no sabor mais se assemelhava a água do mar.

 

Entretanto, a azáfama no Estado-maior do Exército em Lisboa, era constante. A Escola Prática de Infantaria, em Mafra, recebia a ordem de mobilização, formando os seus efectivos o Batalhão de Caçadores «Vasco da Gama», sob o comando do coronel França Borges, que depois do seu regresso da Índia, seria indigitado como presidente da Câmara Municipal de Lisboa.

 

Este Batalhão ficaria aquartelado em Alparqueiros, na cidade de Vasco da Gama, com as suas instalações de recurso, constituídas por barracões metálicos.

 

A unidade-chave da região de Lisboa, o Batalhão de Caçadores nº 5, sob as ordens do coronel Ribeiro Cazais, passava a tomar o nome de Batalhão de Caçadores da Índia, aboletando-se no Convento de Santa Mónica, em Velha Goa, em cuja igreja do Bom Jesus se encontram depositadas as relíquias do Apóstolo das Índias, S. Francisco Xavier.

 

Ainda na Velha Cidade, a Bataria de Artilharia «D. João de Castro», proveniente do Regimento de Artilharia Ligeira nº 1, de Lisboa, ocupava o Convento de S. Caetano.

 

Na cidade de Pangim, ou Nova Goa, capital do Estado da Índia, os efectivos militares foram reforçados com a Companhia de Engenharia, aquartelada no ponto mais alto da Cidade, denominado Altinho e a poucos metros da Emissora de Goa, a dispor de mais elementos vindos da Metrópole. Quando se deu, de facto, a grande invasão satyaghray de 1955, comandava a unidade o capitão Vasco Gonçalves, guindado ao cargo de primeiro-ministro após o 25 de Abril de 1974.

 

Ao Pelotão de Comando e Serviços do Quartel-General, ficou adstrita a Companhia de Caçadores nº 5, composta por elementos africanos, mas com atribuições específicas. O PCS-QG era formado por elementos naturais de Goa, africanos e metropolitanos, tendo como um dos oficiais subalternos, o alferes Bélico Velasco, que anos mais tarde fez a sua comissão militar em Macau, vindo depois a ser nomeado comandante da Polícia de Segurança Pública de Macau.

 

Chefiava o Quartel-General, em substituição do major Hermes de Oliveira – transferido para idêntico cargo no Comandante-em-Chefe, instalado no Palácio de Idalcão – o Major Jaime Silvério Marques, que depois de exercer outros elevados cargos em Angola e Lisboa, seria indigitado como Governador de Macau, merecendo o invejável panegírico público de «Governador que deu o pontapé de saída ao desenvolvimento de Macau».

 

(continua)

 

Alberto Alecrim

 

Artigo da Revista Macau nº 18 de 1989-edição do Gabinete de Comunicação Social do Governo de Macau

 

http://www.memoriamacaense.org/id305.html

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