EXEMPLOS DE LIBERDADES
É tempo de rever algumas vozes dos que ao mesmo aspiraram.
Disse-o Bocage, nos alvores da Revolução Francesa:
"Liberdade onde estás? Quem te demora?
Quem faz que o teu influxo em nós não caia
Porque (triste de mim!), porque não raia
Já na esfera de Lísia a tua aurora?
Da santa redenção é vinda a Hora
A esta parte do mundo, que desmaia.
Oh! venha... Oh!, venha e trémulo descaia
Despotismo feroz, que nos devora!
Eia! Acode ao mortal que, frio e mudo,
Oculta o pátrio amor, torce a vontade,
E em fingir, por temor, empenha estudo.
Movam nossos grilhões tua piedade;
Nosso númen tu és, e glória, e tudo,
Mãe do génio e prazer, ó Liberdade!»
Disse-o Pessoa, arrasador da disciplina:
"Ai que prazer não cumprir um dever!
(...)
O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca."
Disse-o Éluard, como resistência à pata germânica:
«J’'écris ton nom.
Et par le pouvoir d'un mot.
Je recommence ma vie.
Je suis né pour te connaître.
Pour te nommer.
Liberté.»
Dizia-o o nosso povo, de experiências feito:
«Liberdade, liberdade
Quem na tem chame-lhe sua.
Eu não tenho liberdade
Nem de pôr o pé na rua.»
Mas agora já a tem. Receoso, todavia, dos raptos, dos assaltos, dos assassínios...