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A bem da Nação

ERA UMA VEZ...

 

 

Episódios da história em Angola!

 

Começa a história, escrita, de Angola, em 1482, com a inscrição das famosas Pedras do Ielala:

 

Aqui chegaram os
navios do esclarecido rei D. João II de Portugal

 

– Diogo Cão, Pero Anes, Pero da Costa

 

e ainda, ao lado

 

Álvaro Peres e Pedro Escobar.

 

Morto de doença Antão, João Álvares e João Santiago.

 

Morto Diogo Pedro e Gonçalo Álvares

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Não era o primeiro contacto dos portugueses com a Etiópia, como era chamada pelos árabes toda a região ao sul do Egipto e Sahara, mas o primeiro a chegar aos limites do que hoje é Angola.

 

De regresso a Portugal, levou Diogo Cão alguns “etíopes” do Congo, que foram confiados aos Lóios (Congregação dos Cónegos Seculares de São João Evangelista ou Congregação dos Lóios), onde estiveram dois anos. Já instruídos, antes de serem baptizados, para serem devolvidos ao Congo, destacou-se um deles, o Caçuta, que teve como padrinhos D. João II e D. Leonor.

 

Foram estes homens que mataram qualquer ilusão sobre riquezas da sua terra, como ouro e pedrarias. Haveria, sim, madeiras e marfim. Era de tentar o comércio.

 

Mais tarde, 1515, D. Manuel mandava Simão da Silveira como embaixador junto do rei do Congo, com instruções bem precisas:

 

“Ireis na melhor ordem e concerto que vos for possível e ainda bem, como de vós confiamos, não consentindo à gente que levardes fazer
algum dano sem razão às gentes da terra nem a cousas suas; antes vós trabalhais para que em tudo vá bem ensinada e castigada em tal maneira que a gente da terra receba com ela muito prazer e não se lhe possa seguir escândalo algum, e disto tende tal cuidado como em vós confiamos.

 

Acerca do acrescentamento da nossa fé católica, assim em terra del-rei de Manicongo, como em toda outra parte, vós trabalheis como se
faça, porque isto é o fundamento com que lá vos enviamos, e do que acheis em el-rei de Manicongo e em sua terra, acerca da fé, nos avisai muito no certo, e da esperança que tendes em fazer fruto.

 

O ensino e castigo da nossa gente que convosco vai ordenada de ficar, vos encomendamos muito, para que viva em toda a razão e justiça, e seja assim castigada, que não haja motivo de nenhuma pessoa das terras se agravar; e fazendo alguém o que não deve seja castigado com todo o rigor... vos mandamos que se algum frade e clérigo fizer coisa que não deva e for de mau exemplo o não consintais mais lá.”

 

Passou entretanto D. Manuel a chamar-se:

 

“Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, d'Aquém e d'Além-Mar em África, Senhor da Guiné e da Conquista, Navegação e Comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia, etc.”

 

Pouco depois o rei do Congo intitulava-se também “per graça de deos, Rey do Comguo e Ibumgo Cacomgo e Agoyo daquem e dalem azary Senhor dos ambundos damgola da quisyma e musuauru e de matamba e muylla e dos anzicos e da conquista do pauzo alaumbo.”

 

Boa!

 

Havia já começado o intercambio entre Portugal, Brasil e África, com a rápida divulgação de cultivos, e São Tomé era lugar obrigatório
de passagem entre os três continentes.

 

Trocaram-se cana-de-açúcar, citrinos, macieiras, legumes, etc., por abacaxi, batata, e para África a mandioca, e muitos outros, que viria
a ser um dos factores da melhoria da alimentação em todas as terras.

 

Em 1572, um agricultor de São Tomé, escreve:

 

“Nacem beldroegas e hua maneira de beringellas, que são muito boas para comer. Das sementes que de Portugal se hão trazido, não hei
ouuido dizer que nhuã haia deixado de nacer. Há rabões, couuves, coentros, e hortelam e cravos, mangericão, creio que se dá no mato; toda a semente nace (como não no derão huns poucos grãos de trigo que crecerão tão altos como hum home com mui grandes espigas), não me parece ser por natureza da terra, se não por ser muito viçosa; e tenho para mim que se cultivasse, e cançasse, daria também semente, porque o mesmo acontece em Espanha, em terras mui viçosas, antes que as cultivem e cançem.”

 

O Ngola Quiluangi, soba do Dongo, e cheio de inimigos à sua volta, tendo sabido do auxílio prestado pelos portugueses ao rei do Congo,
contra um seu inimigo, pedia ao rei de Portugal auxílio e aliança; Paulo Dias de Novais, neto de Bartolomeu Dias, é encarregado dessa missão. Sai de Lisboa a 22 de Dezembro de 1559 e fundeou na Barra do Quanza em 3 de Maio do ano seguinte.

 

Depois de mandar uns emissários apresentarem-se ao Ngola e pedir-lhe que se viesse juntar a ele para se conhecerem, o Ngola negou-se, reclamando a presença dos missionários que também pedira. A contra gosto, e até avisado por portugueses, que há anos comerciavam no interior, sobre possível cilada, segue Paulo Dias e o Padre Francisco de Gouveia.

 

Lá chegados, recepção animadora, troca de presentes, festa, mas o Ngola não queria deixar os portugueses saírem dali. E não voltaram! Luis Dias, sobrinho de Paulo Dias, não vendo a comitiva regressar aos navios deduziu que tinham ficado cativos e voltou a Portugal.

 

Escreveu o padre Garcia Simões, um dos missionários: “o Ngola roubou-nos tudo quanto levávamos, até o sino, e assi fez a todos que iam connosco e reteve toda a gente na terra té que os navios se vierão por não poderem esperar.”

 

Quando o Ngola soube que os navios tinham partido, e que os seus prisioneiros não tinham para onde fugir, deu uma “teórica”liberdade a
Paulo Dias e ao padre Gouveia, que descreve magoado: “Passamos muytos trabalhos porque além de não nos darem muytas vezes nada nos espancão muytas vezes pello que a gente nos foge e deixa soos, e dizer a El-Rey não pune nada pelo que noos sofremos acundando-nos com vender secretamente esta pobreza que temos farrapos cousas velhas a fidalgos desta terra a troco de mantimentos. Outro dia diz que somos escravos de El-Rey e que vamos fazer seu serviço como algumas vezes fizemos como de coser-lhe as capas e outros vestidos de Portugal e brear almadias em que El-Rey se lava e outras cousas semelhantes e nisto passamos a vida.”

 

Durou seis anos este cativeiro, a que Paulo Dias sobreviveu com a sua vontade de ferro, sem se deixar abater! E acabou merecendo a amizade do Ngola!

 

Foi um belo aprendizado para quem voltaria em 1575 para governar e administrar o comércio e continuar a pesquisa da prata... que nunca apareceu!

 

Nos anos de 1601 e 1602, era já importante o comércio de marfim, gados, frescos e cobre. Sobre isto escreveu o “famigerado aventureiro” inglês, Andrew Battel:

 

“O governador mandou, então, ao sul uma fragata com 60 soldados dos quais fui um, levando toda a espécie de fazenda. Aproamos ao sul, até 12°de latitude onde encontrámos uma boa baía arenosa. O gentio do sítio trouxe-nos vacas, carneiros, trigo e favas. Não nos demoramos aqui, contudo, seguindo para a Baía das Vacas, que os portugueses chamam Baía da Torre. Fundeámos ao norte desta rocha, numa baía arenosa, e comprámos grande quantidade de vacas e carneiros, maiores que os nossos carneiros ingleses, e também cobre muito fino. Comprámos ainda certa madeira aromática, chamada cacongo, muito estimada pelos portugueses, e grande porção de trigo e fava. E tendo carregado a nossa embarcação mandámo-la regressar. Cinquenta dos nossos ficaram, porém, na praia, onde construíram um fortim, com barrotes, por ser a gente traiçoeira, em que não há que fiar. De modo que, em dezassete dias juntámos quinhentas cabeças de gado; e decorridos dez dias enviou o Governador três navios e assim nos partimos para a cidade.

 

Depois, prossegue Battel: Nesta baía pode qualquer navio fundear sem perigo porque a costa é lisa, assim como podem vir refrescar-se as que vêem das Índias Orientais, porque os «carracks» portugueses seguem ultimamente, ao longo da costa para a cidade, onde se refrescam e fazem aguada. As gentes deste sítio, a quem chamam «endalambondes» não têm quem os governe e são, por isso muito traiçoeiros, devendo andar acauteladas os que traficarem com eles. São muito ignorantes e sem coragem nenhuma pois trinta ou quarenta homens bastarão para lhes entrar atrevidamente pelas terras e trazer manadas inteiras de gado. Comprámo-lo nós por contas de vidro com polegada de comprimento, que se chamam «inopindes», e cada vaca custava quinze contas.

 

Esta província — acrescentava Battel — chama-se Dombe tem uma crista de altas serras ou montes, que são das terras ou montes de
Caimbambo, onde há minas, e corre ao sul quarta e oeste, ao longo da costa. Encontra-se aqui grande abundância de cobre fino, assim eles quisessem explorar as minas; mas apenas levam quanto lhes baste para os adornos que usam.

 

Foi precisamente numa destas viagens a Benguela, mas nas proximidades do rio Cuvo, que os mercadores portugueses descobriram um grande arraial indígena estranho ao lugar, numa ocasião em que lá chegaram. Desembarcando, certificaram-se admirados que se tratava dum densíssimo agrupamento de jagas. Vinha tal gente da Serra Leoa e esforçava-se por atravessar o rio. O seu desejo consistia, porém, primeiro, em trucidar os nativos, tendo já matado muitos. Cativos dos recém-chegados viam-se inúmeras crianças e mulheres, não falando de homens. O maioral dos benguelas, de nome Honibiagimbe, perdeu a vida e a seu lado mais de um cento dos principais chefes, sendo as suas cabeças arrojadas aos pés do grande jaga.

 

Com surpresa dos portugueses, presenciaram eles tal espectáculo. Era cousa de espanto— diz o aventureiro inglês — ver aqueles homens, mulheres e crianças levados vivos com os cadáveres que iam para ser devorados, pois são estes jagas os maiores canibais e comedores de homens que há no mundo, mantendo-se principalmente de carne humana embora dispondo de todo o gado deste país.

 

 

Rui de Janeiro, 08/11/11

 

 Francisco Gomes de Amorim

 

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