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A bem da Nação

AS PARVOIÇADAS DA NOSSA DESEDUCAÇÃO

 

Os dois artigos que seguem, de dois professores, chegaram-me por e-mail. Traduzem experiências vividas, gritos de alma de quem se afunda e vê afundar-se toda uma nação, com as deficientes e mal esclarecidas políticas de Educação que, acrescentadas de uma há muito acentuada deficiência de educação familiar, tornam o ensino português uma pobre forja de indisciplina, desatenção, desvairamento na inadaptação a princípios de exigência e responsabilização, desinteresse pelo saber, apesar dos meios que as tecnologias poderiam proporcionar com o mundo de informação de que dispõem, mas que são causa, a maior parte das vezes, da fuga, pelo excesso de lúdico que proporcionam, à concentração do espírito, à inapetência pelo trabalho mental, à dispersão por campos de futilidade, quando não de desvio, de violência, de desregramento de que as nossas escolas são palco.

 

Escolas que já não são escolas mas agrupamentos escolares, mistura desordenada de criaturas de idade vária, espaços de ruído, de violência, de agressão, onde, definitivamente, não é possível um ensino eficaz, em “contentores”, forjados à pressa, a fazer de salas, onde a água da chuva obriga ao afastamento das mesas e cadeiras e o frio do Inverno vai penetrar em tradição do nosso envilecimento.

 

O Governo fecha os olhos, incapaz de soluções, num ensino cada vez mais farfalhudo de monstruosas reuniões e burocracias forjadas no governo anterior, destruidor de energias, protelando as esperadas regras de imposição de disciplina, fundamentais dentro de honestos princípios de trabalho eficaz.

 

O artigo de Manuel António Pina – «O “essencial” e é um pau» – não me parece, todavia, tão fidedigno assim, quando ouço, por exemplo, que o estudo da gramática se faz por um chorrilho monstruoso de designações lembrando a velha escolástica com os seus silogismos ostentatórios de um rebuscamento mental parolo, a exigir consulta psiquiátrica. Aí, sim, vejo a pretensão idiota de transformar os alunos e os professores em cobaias de experiências governativas ditadas pelo pretensiosismo desses “bichos-caretas” fazedores de vaidosos programas só “para inglês ver”. Com tais preciosismos, dificilmente os alunos passarão da fase do “ler, escrever e contar”, nisso estou de acordo com Manuel Pina.

 

O artigo de Luís Moura traduz os problemas económicos causados pela difusão dos tais Magalhães do nosso ensino de sucata, com repercussões sobre as carreiras docentes “congeladas” na sua progressão. Vê-se que a mágoa é grande, mas o efeito sobre os nossos jovens, de embrutecimento e inércia, pela obsessão lúdica e desmotivação pela aprendizagem, é superior em perversão, quanto a mim, à “paragem” temporária na carreira docente, porque com reflexos sociais de vastíssima amplitude.

 

Mas a não haver rápida reforma que ponha definitivamente cobro a tanta “parvoiçada”, como já diria Verney, não sairemos desta cepa torta da nossa mediocridade cada vez mais triste.

 

 Berta Brás

 

Os textos de “Opinião”:

 

O "essencial" e é um pau - Artigo de Manuel António Pina

 

«A afirmação do actual ministro da Educação de que o "princípio geral" que presidirá à "sua" reforma curricular do ensino básico e secundário é o de que "é necessário concentrar nas disciplinas essenciais" constitui todo um programa ideológico.

 

Deixando de lado o obsessão de todo o bicho-careta que chega a ministro da Educação em Portugal em "reformar" mais uma vez os curricula escolares, tornando o ensino num laboratório de experiências educativas e os alunos em cobaias que se usam e deitam fora na próxima "reforma", tudo com os resultados que se conhecem, a opção por um ensino público limitado a "disciplinas essenciais" segue fielmente a rota ideológica do "saber ler, escrever e contar" de Salazar.

 

Falta apurar o que o ministro entenderá por "essencial", mas outras medidas que tem tomado, como triplicar o valor dos cortes na Educação pública previsto no acordo com a "troika" enquanto financiava generosamente os colégios privados, levam a crer que o programa de empobrecimento anunciado por Passos Coelho é mais vasto do que parece. E que, além do empobrecimento económico das classes médias e mais desfavorecidas, está simultaneamente em curso o seu empobrecimento educativo.

 

Para a imensa maioria que não tem meios para pôr os filhos em colégios privados (que, no entanto, financia com os seus impostos), o "essencial" basta. Mão-de-obra menos instruída é mão-de-obra mais barata. E menos problemática.»

 

«E é só a Parque Escolar?» - Artigo de Luís Moura

 

«No consulado de Maria de Lurdes Rodrigues adjudicaram-se centenas de milhares de computadores portáteis em mais um negócio ruinoso para o estado e milionário para os operadores de telecomunicações móveis com os programas “e-escolas” e “e-escolinhas”, vulgo Magalhães. Quem pagou a factura? Coincidência ou não, imediatamente antes, os professores viram congeladas as suas progressões. Não é lícito perguntar se o dinheiro poupado em remunerações foi desviado para os Magalhães?

 

Garantido o direito a um computador portátil grátis, ou a preço simbólico, a cada aluno e professor, era a vez das escolas. De norte a sul, os estabelecimentos de ensino de todo o país ficaram, de repente, a abarrotar com material informático e periféricos novinhos em folha com dezenas, se não centenas de milhar de computadores, milhares de quadros interactivos e projectores de vídeo, muitos dos quais nunca foram usados e alguns nem sequer instalados até hoje. Tudo isto, mais uma parafernália de routers, cabos, ligações sem fios e quejandos.

 

Mau grado a torrente tecnológica, os professores tentam aceder à internet na sala de aula e a maior parte das vezes não conseguem porque o acesso é ‘wireless’ e funciona muito mal. Sabendo nós que o material informático fica obsoleto rapidamente, bem podemos concluir que, em muitos casos, o último grito da tecnologia não passa de tralha que vai acabar na sucata sem nunca ter sido usada.

 

Na escola onde presto serviço, uma secundária, só as casas de banho não têm projector de vídeo, tal a quantidade fornecida pelo ME. Mesmo assim, há uns quantos de reserva, uma vez que já não há salas disponíveis para os aplicar. Não sei se o mesmo se passa nas outras escolas, mas imagino.

 

Se em média o custo de cada computador de secretária for de 250 €, o de cada monitor 100 €, o de cada projector de vídeo for de 250 € e o de cada quadro interactivo for de 500 €, é só fazer as contas, como dizia o primeiro ministro Guterres. Este foi o (não resisto a usar um vocábulo todo modernaço) paradigma do governo ps, e não só para a educação. Onde é que poderíamos estar agora se não na bancarrota?

 

Por fim, cito uma frase da Ilíada de Homero, que se aplica ao primeiro-ministro Passos Coelho a propósito do que ele tem dito e do que ele tem feito: «…assim falou Aquiles de pés velozes: “(…) Como os portões do Hades me é odioso aquele homem que esconde uma coisa na mente, mas diz outra.” (...)». São precisos sacrifícios para sair deste chiqueiro? Façamo-los. Mas que se diga a verdade e que ninguém fique de fora.»

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