A “COMPETIVIDADE” DO MINISTRO DA ECONOMIA
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Ouvi há pouco Álvaro dos Santos Pereira a explicar o seu plano de austeridade com a rapidez e a seriedade necessárias para se não entender nada, pelo menos as pessoas leigas ou pouco habituadas às maroscas das explicações rápidas dos inteligentes eruditos para os mais habituados à erudição. E às maroscas.
Despachou-se o ministro, deixando no ar a última pergunta do jornalista, como é hábito já ancestral entre os nossos governantes que, com esse desprezo, demonstram a distanciação do seu posicionamento governativo relativamente às bases, que simpaticamente atendiam durante as eleições. Mas frisou por várias vezes a “competividade” do meu repúdio linguístico, que o jornalista repudiou também, ao resumir o discurso do sr. Ministro, usando correctamente a palavra “competitividade”, como resultante do adjectivo “competitivo” e não “competivo”. Sem haplologia, que é uma palavra também erudita, mas de um nível que já a ninguém interessa, nem a nenhum Governo, que todos eles concordam com as síncopes do novo acordo ortográfico.
O sr. Ministro usou competividade com haplologia, suprimindo a sílaba repetida, como já se fez outrora em bon(da)doso, ido(lo)latria, habili(da)doso, o Sr. Ministro que me desculpe a lição que ele não vai ler, que tem mais que cortar, e por isso lição inútil mesmo para muitos outros, deputados, ministros, etc, que não há meio de corrigirem a sua desprezada língua, nem mesmo por “acordos” com os povos de expressão lusófona que talvez usem correctamente a pronúncia da palavra plural, mantendo o o tónico fechado, sabedores do processo de metafonia justificativo de outros oo abertos, como em ovos, jogos, fogos, povos, o que não acontece em piolhos. Nem em acordos, maçadoramente o repito, que já o disse mesmo antes da assinatura do acordo ortográfico, omisso nestes casos, não exceptuando os acordos fechados das suas novas regras, mais fincadas nos cc ou pp não pronunciáveis e por isso suprimíveis, na nossa euforia modernística adepta dos cortes. Mesmo nas pobrezinhas das “amídalas” sofredoras.
Mas hoje enviaram-me mais um e-mail sobre o corte do subsídio de Natal que, segundo o texto, é apenas uma extorsão, pois há muito representava apenas uma reposição do que pertencia a cada trabalhador, se recebesse à semana, como os ingleses.
Diz o e-mail:
«Os trabalhadores ingleses recebem os salários semanalmente! Mas há sempre uma razão para as coisas e os trabalhadores ingleses, membros de uma sociedade MAIS crítica do que a nossa, não fazem nada por acaso!
… "Fala-se agora que o governo pode vir a não pagar aos funcionários públicos o 13º mês ou subsídio de natal. Se o fizerem, é uma roubalheira sobre outra roubalheira.
O 13º mês é uma das mais escandalosas de todas as mentiras dos donos do poder, quer se intitulem "capitalistas" ou "socialistas", e é justamente aquela em que os trabalhadores mais acreditam. Eis aqui uma modesta demonstração aritmética de como foi fácil enganar os trabalhadores.
Suponhamos que você ganha €700,00 por mês. Multiplicando-se esse salário por 12 meses, você recebe um total de €8.400,00 por um ano de doze meses. €700,00 X 12 = € 8.400,00
Em Dezembro, o generoso governo manda então pagar-lhe o conhecido 13º Mês: € 8.400,00 (Salário anual) + €700,00 (13º salário) = € 9.100,00 (Salário anual + o 13ºMês).»
Na realidade, o ano não tem 48 semanas exactas mas 52 semanas, diferença de quatro semanas que perfaz um mês, o tal 13º que nos é dado como generoso subsídio e não representa senão a reposição do que nos é tirado durante o ano.
E agora vai ser extorquido a favor da “competividade” das nossas empresas.
Mas não é assim que se remodelam as empresas, Sr. Ministro! Destruindo a língua da pátria onde as empresas desejam competir.
A língua é fundamental, numa sociedade que se preze.
Só que me parece que o desprezo governativo pela língua é paralelo ao desprezo governativo pela sociedade.
Berta Brás