BATERAM NO GADAFFI!!!
(*)
Levantou-se um imenso clamor, mundial, sobre a morte do simpático e inofensivo Gadaffi (ou Kadaffi?).
De facto, os chamados rebeldes rebentaram mesmo com a cara dele. Tal a raiva que lhe tinham, ainda por cima vendo-o aparecer, saído dum cano, com uma pistola de ouro na mão. Foi demais. Tinha que levar uns tabefes.
Pus-me a pensar a quantos o mundo já tinha dado os mesmos tabefes, ou simples tiros na nuca!
Na China a presos políticos ou traficantes, fora os torturados por Mao.
Na democrática URSS o senhor Yussip, depois de mandar matar Lenine, matou o Trotsky, além de todos os seus principais e mais directos colaboradores.
Não tardou muito que, para fazer canhões bombas atómicas, matasse à fome uns milhões de ucranianos, confiscando-lhes a produção de trigo.
E quem se lembra, ainda a II Guerra não tinha acabado, do tratamento dado na Itália ao seu grande líder Mussolini? Esmurraram-no,
estraçalharam-no, rebocaram-no atrás de um carro por Roma e depois de não ser mais do que um pedaço de carne ainda o penduraram num poste para gáudio e aplausos dos felizes italianos. (Anos, poucos, passados, lembravam-no com admiração e saudade!).
Ao Lincoln resolveram o problema com uns tiros, mas depois da Guerra Civil, os republicanos/democráticos americanos, que diziam na sua Constituição que “todos os homens nascem iguais”, lincharam mais de 5.000 pessoas! Só em 1862 foram, numa fornada, 161. Negros, é evidente.
E em quantos pedaços esquartejaram o inofensivo Tiradentes?
E quando assassinaram o rei D. Carlos e o Príncipe? O que fizeram ao Buiça e Alfredo Costa?
Mas todos estes episódios são fruto de revoluções, quase sempre com finalidades financeiras e não ideológicas ou políticas, porque quem
ganha vira herói e rico, e quem perde... morto ou bandido.
Mas há muito pior do que censurar os tunisinos que espatifaram uma besta aparentemente humana, que os explorara durante mais de
quarenta anos e desviara do país, em proveito próprio, umas centenas de biliões de dólares. Além do divertimento que gostava de apreciar, como o enforcamento de uns quantos presos políticos, escolhidos aleatoriamente, para celebrar os aniversários da sua tomada de posse.
E quando outra besta é apanhada depois de estuprar e matar uma criança? Vamos tratá-lo com cerimónia e sopinhas?
Pior do que tudo isso é aquilo que outras bestas convencionaram chamar de desporto, e que se chama “Ultimate Fighting”! Trata-se de esmurrar e chutar o adversário até ele cair, e ainda no chão levar uma porção de murros na tromba para não ser estúpido!
Na civilizada Inglaterra esse magnífico “desporto” foi agora oficialmente autorizado para crianças, e os queridos paizinhos levam crianças
de nove e dez anos para andarem “à porrada”com amiguinhos, com quem deviam estar a jogar futebol ou ping-pong! E os evoluídos british parents, sorrindo de orgulho, vêm os filhos, que ainda mal sabem falar, esfolar a cara do outro ou sair esfolado.
Todos estes atrasados mentais aplaudem com tanto mais ardor quanto mais o perdedor fica sangrando ou mesmo K.O.
Eu tenho dois netos, gémeos, em Londres, com doze anos. Há dias uns garotos mais ou menos da mesma idade, foram lá a casa. Bateram à porta e, perguntados, disseram ao que vinham: queriam “andar à porrada”! Assim mesmo, só queriam bater-se!
E há quem se arrogue o direito de comentar o que os tunisinos fizeram a quem para eles representava a opressão, a corrupção, a pouca
vergonha?
O que faria qualquer um de nós se se encontrasse em posição semelhante? Chamaria uma massagista para lhe tratar das costas doloridas por ter estado dentro dum cano, e ainda lhe mandava servir um aperitivo, enquanto descansasse num quarto de hotel de seis estrelas?
E se um filho ou filha, ou neto/a nosso fosse vítima de violência? Eu lamento dizer, mas se tivesse a infelicidade de me defrontar com tal bestialidade, de certeza não dava bolinhos ao assassino. De certeza. Deveria despertar em mim o nosso primitivo, e útil, instinto de sobrevivência e defesa, e... nessas ocasiões acho que o melhor seria ter um taco de beisebol à mão!
Comentar e apontar o dedo, é aquilo que, parece, os homens (e as mulheres) melhor sabem fazer, sobretudo quando o problema não é com eles, está longe, e não os envolve directamente.
É tão fácil julgar os outros!
Rio de Janeiro, 27 de Outubro de 2011