Batalhão de Artilharia nº 3887
Aos membros do Batalhão de Artilharia nº 3887, inesquecíveis amigos e companheiros duma humana aventura em terras de África.
(*)
Moçambique 1972 – 2002
Será pecado um fugaz regresso à fonte de emoções puras
Que embriagava nossa alma límpida de soldado?
Como diluir as penumbras hodiernas que escondem
Os símbolos da nossa abnegação e do nosso sacrifício?
E que rituais de espírito lhes são devotados hoje
Quando as consciências se vergam facilmente a fátuos valores?
Para quando o justo e definitivo apreço por aqueles
Que não regatearam preço de vida nem adereço de ocasião?
Ninguém sabe... Ou ninguém responde...
Há quem diga que não é ainda tempo de exorcizar
Os fantasmas que ensombram certa memória.
Que novas alvoradas rompem agora os céus
De Mecula, Candulo, Chiulézi, Gomba, Mussoma?...
Que trilhos de vida se abrem hoje nas paisagens
Onde os deuses parecem adormecidos?
Que searas ondulam aos novos ventos
No chão onde semeámos ânsias e canseiras?
Que recordação resta ainda nos filhos do Lugenda
Da flor que ostentámos na hora do crepúsculo?
Ninguém sabe... Ou ninguém responde...
Há quem diga que a poalha do tempo cai ainda
Lenta e silenciosa sobre o lume da história.
Ah, mas sabemos nós ... respondemos nós...
Respondemos que o nosso braço armado não violentou,
Não se prostituiu, não desonrou.
Sabemos que a nossa amizade é árvore que refloresce
Na claridade de cada reencontro e no influxo de cada gesto.
Respondemos à memória dos nossos companheiros mortos
Com um silêncio interminável e uma vela inapagável.
Sabemos escutar... um fundo murmúrio de saudade
Qual regato escorrendo pela serra de Mecula!
Tomar, 1 de Junho de 2002
Adriano Miranda Lima
(um companheiro)