NÃO LEVOU A MAL
- Eu acho que ele devia ter sido demitido, desde que tratou o Cavaco por “Sr. Silva”. Mas afinal o Sr. Silva não levou a mal.
Era sobre a extraordinária má educação do chefe do governo da Madeira que ultimamente chamara “moço de recados” a Paulo Portas. Achava eu que só um país deficitário em valores morais e cívicos poderia encaixar, com paciência de boi manso, tais imundícies de uma boca descontrolada de palhaço grotesco como governante. Lembrei mesmo o conto infantil da viúva que tinha uma filha feia e má e uma enteada linda e boa. Esta, por ter sido generosa para com uma fada, disfarçada em velhinha pobre e sedenta, passou a deitar rosas e pedras preciosas pela boca quando falava, ao passo que a irmã, por não ter sido boa, foi fadada para deitar sapos e répteis repelentes quando falava. Comparei Jardim à filha feia e de boca suja, pois da dele também saem a cada passo batráquios e répteis e outras viscosidades, enquanto vai trabalhando na sombra do seu governo infindável, trocando a lisura nas contas pela ordinarice nos ditos.
Logo a minha amiga disparou com a garra da sua indignação a frase citada sobre o Sr. Silva, mas acrescentou que os madeirenses achavam que mais ninguém se lhe equiparara em obra feita e era isso que contava para eles. E acrescentou:
- Também verdade seja dita, antes de ele ir para o buraco, deviam ir todos os que sabiam das falcatruas e as calaram. E eram muitos os que sabiam, de todos os quadrantes, embora finjam que não, não se sabe se para calar outras trafulhices. Então esta gente não leva com um grandessíssimo processo em cima?
Contei então à minha amiga que ontem, no “5 de Outubro”, num programa sobre o Eduardo Lourenço, na TV Memória, ouvira António José Saraiva a referir com muito chiste, para amigos, que, quando voltara a Portugal, no 1º de Maio de 74, a Revolução se lhe assemelhara antes a uma romaria, tão destituídos de cultura política ou outra qualquer lhe pareceram os lorpas que se exaltavam nas ruas.
Eduardo Lourenço, entrevistado, comentou que agora estavam pior. E isso justificou, segundo comentámos, uns chefes como o Jardim, cada vez mais fanfarrão, despudorado, prepotente e perene, e um Cavaco cada vez mais lamechas e vago, inócuo e também perene, oculto numa penumbra de pseudo-educação e de pseudofortaleza, na forma conformista como conduz os destinos da Nação, que vai sucumbindo, ao contrário dele, reconfortada a sua alma nos avisos que diz que fez aos governantes responsáveis, sobre o desastre do país, atido ao que leu na Bíblia sobre o Verbo, identificado com Deus…
O Verbo é que é. Verbosidade, verborreia. E os sinónimos do nosso divinal carisma.
Berta Brás