MAS AFINAL, COMO É?
A ESCOLHA
Portugal enfrenta uma escolha decisiva, que se pode resumir na referência a dois países: México e Bélgica. Para o entender temos de recuar 30 anos.
Em 1981 o nosso país vivia há sete em democracia, após décadas de ditadura. Saía de uma crise financeira, ajudado pelo FMI, e ia cair noutra, que o FMI também resolveria.
A nossa credibilidade era mínima e o nível de produto per capita estava em 8000 dólares (preços 1990). Éramos então um país semelhante ao actual México, cujo produto é agora o que então tínhamos.
Nestes 30 anos desenvolvemo-nos bem. Somos uma economia europeia, integrada na União, com sociedade moderna e um produto per capita nos 14 mil dólares. Ou seja, estamos parecidos com a Bélgica de 1981, que tinha então um produto semelhante ao nosso actual. Em 30 anos foi como se passássemos do actual México para a Bélgica de então. Claro que entretanto a Bélgica também cresceu, embora menos que nós, e hoje está quase nos 24 mil dólares.
Nos últimos tempos Portugal voltou a hábitos antigos, aqueles que geraram as crises de há 30 anos. Esbanjámos dinheiro, deslumbrámo-nos com a facilidade, descurámos o investimento e inovação, endividámo-nos. Por isso voltámos ao FMI, à austeridade e ao dilema de 1981.
Hoje somos mais ricos, com o nível de vida da Bélgica de então, mas perante os duros sacrifícios que temos pela frente a alternativa é clara. Ou conseguimos pôr a casa em ordem, o que nos permitirá apanhar a Bélgica, ou deixamos reinar a confusão e irresponsabilidade dos últimos anos, e regressaremos ao nível do México.
14 | 09 | 2011
NÃO PAGAMOS!
O Estado português está a cortar a despesa pública. Esta frase só pode ser piada.
Às vezes a despesa desce por si mesma, como aconteceu aos juros no caminho para o euro. Outras, surge uma ditadura que trata disso, com João Franco ou Salazar. Mas deixada a si mesma, em liberdade, nunca a despesa pública portuguesa desceu.
É verdade que a troika está a criar uma espécie de «ditadura financeira» no meio da democracia: ou se reduzem os gastos ou não há mais dinheiro. Será que isto chega para que finalmente se possa ver este fenómeno cósmico de o Estado português cortar despesa? Promessas são muitas e duras, mas isso é costume. Até agora «descer despesa» teve apenas o significado clássico em linguagem orçamental: subir impostos.
Ah, é verdade, e também há aquele truque canónico que parece mesmo descer despesa mas não é: o Estado não paga as contas. Trata-se de uma forma de criar dívida pública informal, usando os fornecedores como caixa económica. Assim gasta menos: os bancos queixam-se que o seu único problema de solvabilidade é o sector público não pagar o que deve, milhares de pequenos fornecedores são estrangulados por dívidas a cobrar do erário público, a Ordem dos Advogados ameaça processar o Estado por pagamentos em atraso das defesas oficiosas. Mas cortar a despesa, cortar não cortou.
28 | 09 | 2011
João César das Neves