“Pessoas de bem”
(*)
Vê-se que a minha amiga anda imensamente céptica a respeito dos valores humanos, embora nenhuma de nós tenha sido tão fustigada assim pela falta de solidariedade humana. Muito menos ela, que recebe e faz contínuos telefonemas às suas amigas do outrora zambeziano da sua saudade. A verdade é que constantemente a ouço exclamar que os cães são as melhores pessoas de bem.
E hoje resolvi contar-lhe uma história de grandeza de alma de cães, que uma vizinha minha me contou dos seus. Tivera dois – o BartoK e o Shubert – dois cães que foram envelhecendo, ora livres, na estrada aberta, ora presos nas grades do jardim. E um dia veio o Sebastião, um bonito e grande cão branco, que, inicialmente, fez rejuvenescer Shubert, no seu carinho brincalhão pelo cão velho. Mas este foi perdendo forças, foi cegando, e o final chegou. Pois o Bartok e o Sebastião, acompanharam o amigo na sua decrepitude, lambendo-lhe os olhos, o pequeno Bartok dormindo encostado a ele, como sempre fizera, jamais os dois mais novos comendo ou bebendo da gamela comum, sem darem respeitosa prioridade a Shubert.
E mais uma vez a minha amiga largou o comentário sobre as melhores pessoas de bem que são os cães. Todas nós, de resto, temos histórias de gestos de amor desse grande amigo, e também de gatos.
Lembro a minha Blacky, que morreu há uns dois meses. Eu não me atrevia a ir vê-la, mas disseram-me que já tinha morrido e algum tempo depois fui levar-lhe as minhas lágrimas, chamando-a baixinho: Blackinha! E a Blacky miou o seu adeus de despedida, que esperara a visita da dona cobarde para finalmente sossegar.
Berta Brás